Variações de um Tema Só

 

Série de fotos de Edgard de Souza expostas na Galeria Luisa Strina

Uma exposição em São Paulo apresenta todos os ângulos da obra de Edgard de Souza

Edgard de Souza combina a força do desejo latente com a leveza transmitida pela fragilidade também inerente ao homem. Mais conhecido pelas esculturas em bronze e madeira laqueada, o artista paulistano vem aos poucos tornando públicas as suas fotografias e os seus desenhos, produzidos com o mesmo espírito ambíguo que o acompanha desde o fim dos anos 80, quando se lançava no circuito nacional. A partir do dia 13/4/05, uma exposição na Galeria Luisa Strina, em São Paulo, com cerca de 30 obras inéditas, feitas justamente nos três suportes, fortalece este compromisso do artista com as expressões mais genuínas do corpo humano.

Ex-aluno de Nelson Leirner (“que me ajudou a entender a arte conceitual, antes disso eu tinha até uma certa resistência”, diz), Edgard de Souza recusa rótulos. Se muitos críticos vêem suas obras como puramente formalistas, ele pondera que também há conceito nas peças. Até por isso transmitem ao mesmo tempo erotismo e vulnerabilidade, em posições que tanto sugerem pulsão como recolhimento. A união de dois corpos, por exemplo, acontece sempre no ponto de maior tensão entre as partes. A dualidade estende-se até o processo de criação. O acabamento impecável das esculturas, que camufla o movimento de suas mãos de exímio artesão, coloca-as muito próximas da excelência industrial e, no entanto, são feitas sem qualquer ajuda profissional: “Acho que esse foi um modo que eu encontrei para ter o controle sobre tudo”.

Até pouco tempo, Edgard de Souza usava a fotografia, sempre auto-retratos, como base de estudo das posições transpostas na seqüência para as peças tridimensionais. “Mas, de repente, vi que alguns ângulos só funcionam na linguagem em papel”, diz ele. A exposição agora em São Paulo é resultado dessa percepção: “Para mim, o meio não é o fim. O mais importante é a coerência. Os suportes são só maneiras de eu falar a mesma coisa, de avançar na minha trajetória”. Pode-se dizer que Edgard de Souza faz, de certa forma, o inverso da Geração 80, que despontou quando ele ainda esboçava a vontade de se firmar como artista. Seus antecessores exploravam a exuberância, e com as grandes telas coloridas chegavam ao indivíduo. Voltadas para si mesmas, as figuras de Edgard de Souza acabam por atingir o coletivo.

Por Gisele Kato

Serviço
Edgard de Souza. Galeria Luisa Strina (rua Oscar Freire, 502, Cerqueira César, SP, tel. 0++/11/3088-2471). De segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 17h. Grátis.

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