
Entre Hitler e Bolsonaro, a pergunta não é apenas sobre o passado: é sobre a coragem de resistir hoje.
Estamos a dois passos do julgamento de Bolsonaro e de toda a sua corja golpista. O julgamento de Jair Bolsonaro na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) está marcado para ter início em 2 de setembro de 2025. Esse é o dia em que as sessões começarão a ocorrer, com previsão de se estenderem até 12 de setembro de 2025. O ar parece carregado de expectativa, como se a história prendesse a respiração antes de virar a página. Meu cérebro ladino, inquiridor e insatisfeito, despertou com esse pensamento: que a justiça, ainda que tardia, é o fio que pode começar a costurar a rasgadura deixada no tecido democrático. O momento é de vigília e de memória — porque cada passo até aqui foi conquistado com resistência e coragem.
Se eu tivesse vivido no tempo de Hitler, em meio ao nazismo, racismo, autoritarismo, culto à violência, nacionalismo extremo e intolerância a minorias ou opositores, a verdadeira questão não seria apenas “de que lado eu estaria?”, mas sim: teria coragem de resistir ou seria levado pela onda do medo, da propaganda e da manipulação? A história mostra que muitos se deixaram seduzir pela retórica da ordem, da pátria e do “inimigo comum”. Outros, por medo de serem perseguidos, silenciaram. E uma minoria ousou dizer “não”, pagando com a vida ou com a liberdade.
Essa reflexão é essencial hoje. Quando vemos pessoas apoiando lideranças que flertam com ideias autoritárias, que alimentam o ódio contra minorias, atacam a democracia e se sustentam em discursos de intolerância, é impossível não enxergar ecos do fascismo. O bolsonarismo, com sua retórica agressiva, seu culto à força, sua desconfiança em relação às instituições e sua política de exclusão, guarda paralelos perigosos com aquele passado sombrio.
O que leva alguém a apoiar figuras assim? Muitas vezes, é a promessa de ordem em meio ao caos, de pertencimento a um grupo, de uma identidade “superior” que se constrói à custa da exclusão de outros. O mesmo mecanismo que sustentou o fascismo no século XX opera hoje: a manipulação do medo, a fabricação de inimigos e a glorificação da violência como solução.
Portanto, a pergunta que deve ecoar não é só se caminharíamos ao lado de Hitler no passado, mas se hoje não estamos permitindo que novas formas de autoritarismo se consolidem. A história não se repete de maneira idêntica, mas rima. E cada vez que damos crédito a ideias que atacam a diversidade, a democracia e a dignidade humana, estamos, em alguma medida, caminhando com aqueles que outrora juramos jamais repetir.
Eu sei que lado eu estaria. Estaria combatendo o fascismo, assim como faço hoje. E você, que lado estaria?
Cláudio Ribeiro
Jornalista – Compositor
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