
A crítica poética ao imperialismo e à submissão nacional em Mãe do Norte, de Cláudio Ribeiro e Homero Réboli, à luz da política externa contemporânea
A composição Mãe do Norte, de Cláudio Ribeiro e Homero Réboli, torna-se ainda mais potente quando lido à luz de episódios recentes da política internacional, como a ingerência econômica do governo Trump sobre o Brasil e o comportamento submisso de Bolsonaro e bolsonaristas. A crítica implícita ao imperialismo ganha corpo quando associada a medidas concretas, como a taxação de commodities estratégicas, que colocaram em risco setores da economia brasileira sem qualquer contrapartida. Ao utilizar o símbolo do “vento” para representar essa dominação disfarçada, o poema denuncia tanto a exploração vinda de fora quanto a conivência dos próprios líderes nacionais, que, em vez de protegerem seu povo, se alinham aos interesses do opressor. A poesia, assim, torna-se uma ferramenta de denúncia, de memória e de luta contra as estruturas neocoloniais que ainda operam no século XXI. “Mãe do Norte” denuncia os efeitos da dominação estrangeira sobre os povos do sul global, especialmente os indígenas e os pobres do Brasil. Ao personificar os EUA como uma “mãe do norte” que “brinca com a sorte” e “com a morte”, o eu lírico revela a ironia cruel de uma “mãe” que não protege, mas destrói. O poema é, assim, um canto de denúncia e resistência. Trata-se de uma obra profundamente política e engajada, que utiliza elementos poéticos para criticar o imperialismo, valorizar as raízes indígenas e evidenciar as desigualdades sociais no Brasil. Ao mesmo tempo, convoca à memória, à luta e à dignidade dos que continuam vivos e resistentes, mesmo em contextos de opressão. Essa composição foi feita na década de 1980.
MÃE DO NORTE
Vento amigo inimigo
Por trás sorrateiro
Vento do norte da morte
Que vem além do terreiro
Que adere e fere a fina fita
Da aflita palmeira
Da terra da serra onde canta a Sabiá
Da casa caiada de barro
Onde a mulher
Da a luz a criança
E embala no berço da fome
Sem nome sem fé
E esperança
Ouvi um grito Tupi-Guarani
A clamar contra o mal
Prepara Curare nas flechas
E canta um canto de guerra fatal
A mãe do norte brinca com a sorte
De quem não tem nem lugar para dormir
A mãe do norte brinca com a morte
E não vai ter nem lugar para cair
OUÇA A MÚSICA
Homero Luiz Réboli faleceu subitamente em Curitiba, no dia 6 de junho de 2018, aos 70 anos, deixando um grande legado criativo para o estado do Paraná.
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