
Cineasta brasileira descobre filmagens raras da Semana Santa de 1942 feitas por Welles. Material integra documentário que será lançado em 2026.
Uma busca que começou como curiosidade virou obsessão e, agora, patrimônio audiovisual. A cineasta Laura Godoy, natural de Ouro Preto, encontrou imagens inéditas feitas por Orson Welles, diretor do célebre longa Cidadão Kane, na cidade mineira durante a Semana Santa de 1942. As filmagens estavam preservadas na Ucla (Universidade da Califórnia em Los Angeles) e nunca haviam sido exibidas ao público.
O material faz parte do projeto inacabado de Welles, It’s All True (É Tudo Verdade), uma produção que mistura documentário, ficção e etnografia, financiada durante a 2ª Guerra Mundial como parte da “política de boa vizinhança” entre Brasil e EUA. O cineasta, que já havia passado por Fortaleza e Rio de Janeiro para registrar o Carnaval e a saga dos jangadeiros, esteve em Ouro Preto para captar a religiosidade local, em contraste com as festividades cariocas.
Ao longo de mais de uma década, Laura Godoy e seu pai, o memorialista Victor Godoy, mergulharam em uma pesquisa que incluiu hemerotecas brasileiras, arquivos norte-americanos e a consultoria da pesquisadora Catherine Benamou. O resultado: registros em preto e branco da procissão da Sexta-Feira Santa e cenas etnográficas que mostram uma Ouro Preto ainda abalada pela perda do status de capital de Minas Gerais. “Virou uma obsessão mesmo. Eu e ele, uma dupla de detetives com esse tema”, disse ela à BBC News Brasil.



Agora, as imagens devem ganhar nova vida no documentário Welles na Terra do Silêncio, com lançamento previsto para 2026. A produção busca também recuperar a memória afetiva da população local, muitos dos quais nunca tiveram a chance de registrar seus antepassados em foto ou filme.
Além de Ouro Preto, estima-se que existam até 23 horas de material inédito gravado por Welles no Brasil, incluindo cenas do Carnaval carioca e manifestações afro-brasileiras que ajudaram a consolidar a virada estética do cineasta em direção a um cinema mais independente e realista.
A liberação dessas imagens ainda depende de negociações com a Paramount, atual detentora dos direitos. Mas uma coisa é certa: a redescoberta põe Ouro Preto definitivamente no mapa da história do cinema mundial.
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