
A Festa Literária Pirata das Editoras Independentes (Flipei) terá que mudar de local após censura da Fundação Theatro Municipal (FTM), ligada à Prefeitura de São Paulo
Os organizadores da Flipei (Festa Literária Pirata das Editoras Independentes) foram surpreendidos na noite de 1º de agosto com ofício da Fundação Theatro Municipal (FTM) de São Paulo cancelando o evento, marcado para começar na próxima quarta-feira (6) com programação que se estende até o domingo (10).
Apesar da vil tentativa de melar a realização da Festa, que aconteceria na Praça das Artes (que integra o complexo mantido pela FTM), a organização já informou que a maior edição da história da Flipei está mantida.
A programação seguirá o mesmo cronograma previamente anunciado, com as mesmas mesas de debate e horários. A única alteração está nos locais dos debates, que deverão se dividir entre o Espaço Cultural Elza Soares (Al. Eduardo Prado, 474 – Campos Elíseos) e o Sol y Sombra 13 (R. Treze de Maio, 180).
Na sexta-feira (8), às 13 horas, a secretária de Relações Internacionais do PCdoB, Ana Maria Prestes, participa da mesa de debate “América Latina na encruzilhada: entre o autoritarismo da direita e as contradições da esquerda”, com Juliano Medeiros e Vanessa Oliveira. O evento contará com shows de Rincon Sapiência e Dead Fish. Veja aqui a programação completa.
Censura
Em comunicado publicado nas redes sociais, os organizadores denunciam a censura contra a Festa por parte da gestão municipal paulista, comandada pelo prefeito Ricardo Nunes. Entre os motivos apontados para que a Fundação Theatro Municipal quebrasse o contrato de última hora consta a pressão exercida pela extrema direita e grupos sionistas.
Como apontam, o diretor da FTM, Abrão Mafra, promoveu a irregular quebra de contrato a poucos dias do início da festa — quando iniciaria a montagem das estruturas — com o evidente propósito de impedir que providências fossem tomadas.
“O ofício da FTM, enviado às vésperas do evento, deixa claro o incômodo com os temas abordados pela festa; nas palavras de Abrão Mafra, que acusa que o “evento possui conteúdo e finalidade de cunho político-ideológico”, traz a denúncia.
Outro importante fato apontado é que Mafra não poderia quebrar o contrato assinado há 5 meses, pois, como estabelecido no próprio documento, para uma rescisão acontecer seria necessário aviso prévio mínimo de 15 dias anteriores à data de início da Festa, e não em 5 dias, como foi feito.
“Estamos movendo medidas judiciais e políticas para responsabilizar a FTM, sua direção, a Secretaria de Cultura e a Prefeitura de São Paulo por esse ato autoritário absurdo de censura”, diz a equipe da Flipei.
Ataques e lobby sionista
Os responsáveis pela Festa das Editoras Independentes lembram que não é novidade este tipo de ataque. Desde 2019, a extrema direita tenta cancelar o evento literário. Naquele ano, bolsonaristas atiraram rojões contra o público de uma das mesas.
Outra triste lembrança remete a 2023, quando a polícia impediu parte da programação que acontecia na cidade de Paraty (RJ). As explicações dadas passavam por incômodo com as manifestações políticas e com as bandeiras do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e de outros movimentos.
Agora, parte da censura passa pelo lobby sionista. A Festa em 2025 tem na sua programação uma mesa de debate sobre a questão palestina, o que gera incômodo entre os defensores da ocupação promovida por Israel.
A mesa conta com historiador judeu Ilan Pappé e com o militante Thiago Avilla, responsável pela Flotilha da Liberdade, que tentou romper o cerco israelense para levar ajuda humanitária a Gaza.
Nas redes da Flipei, internautas apontaram a hipocrisia da gestão Nunes com a justificativa de “cunho político-ideológico”. Eles lembraram que o prefeito e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, apareceram abraçados à bandeira de Israel em evento religioso no mês de junho.
Flipei 2025
A programação da Festa Pirata em 2025 é a maior já prevista, com 220 editoras inscritas, mais de 40 debates nacionais e internacionais, shows, bailes, acessibilidade e atividades para crianças.
“A Flipei é uma festa pirata porque recusa o naufrágio cultural imposto pelo conservadorismo neoliberal e pela elitização do mercado, e insiste em construir um espaço de diversidade, crítica e imaginação de outros futuros possíveis”, ressalta a equipe da festa.
Faça um comentário