
“Há encontros que não cabem no tempo — cabem apenas no coração.”
Receber amigos em casa é sempre um motivo de alegria. É abrir as portas não só do lar, mas também da alma — porque cada visita é uma oportunidade de trocar afeto, risadas e histórias que ficam guardadas no coração, como tempero bom que não se esquece.
Um dia, atendendo a um pedido do meu amigo Faisal Brahim, membro vitalício do Conselho Deliberativo do Coritiba, decidi preparar um Carneiro no Buraco lá na minha chácara em Mandirituba. Reuni alguns companheiros de longa data — jornalistas, dirigentes e torcedores — todos com o coração verde e branco, herdeiros da paixão que meu pai, Ribeiro, vestiu com orgulho na década de 50, quando jogava como atleta profissional do Coritiba.
Entre os presentes, estavam nomes que fazem parte da história viva do clube: Aryon Cornelsen, ex-atleta e presidente; meu compadre e parceiro na composição do Hino Oficial do Coxa, Homero Réboli; Evangelino da Costa Neves, o dirigente que comandou o Coritiba por 23 anos, colecionando títulos e memórias. Também estava o amigo e camarada de partido Luiz Carlos Bracarense, então vice-prefeito de Londrina e o advogado e dirigente do clube, Julio Goes Militão Da Silva , irmão do jornalista EdsonMilitão.
Cada um deles trazia nas palavras e no olhar a lembrança de tempos heroicos — o Couto Pereira erguido com fé, suor e amor à camisa.
Enquanto o carneiro descansava sob a terra, envolto em folhas de bananeira, brasas e pedras quentes, conversávamos sobre futebol, música e vida. O Carneiro no Buraco, mais do que uma iguaria, é um ritual. Há quem diga que nasceu com os jesuítas; outros juram que foi inspirado por um faroeste exibido num cinema de Campo Mourão, nos anos 1960. Mas pouco importa a origem — o que vale mesmo é o espírito de confraternização que o prato carrega.
Porque o segredo do Carneiro no Buraco não está só nos temperos. Está no tempo que ele leva para ficar pronto, no perfume que vai tomando conta do ar, na expectativa dos amigos em volta da mesa. A mesa, aliás, esse altar da convivência humana, é um símbolo antigo e sagrado: nela se partilha o pão, o vinho, as histórias e o silêncio respeitoso da amizade verdadeira.
Naquele dia, o sabor era de carne macia e risadas sinceras. Mas havia também um gosto de gratidão — por poder reunir pessoas queridas, por ter histórias para contar e por sentir que, em torno de um buraco cavado no chão, o tempo também se ajoelhava diante da memória e da amizade.
Foi um dia simples, mas o coração guardou com luxo. Porque o segredo de um bom Carneiro no Buraco está mesmo nos ingredientes — e nas boas companhias que o temperam com afeto.
E quando o fogo se apagou e a tarde se fez mansa sobre Mandirituba, senti que ali, entre lembranças e risos, o Coritiba não era apenas um clube — era um elo que nos unia em alma e história. Um sentimento que atravessa gerações, que mora na memória dos velhos amigos e no hino que ecoa no peito.
Porque ser Coxa-Branca é isso: é misturar amizade, saudade e amor num mesmo caldeirão. É saber que, mesmo quando o tempo passa e os campeonatos terminam, o coração continua verde — fervendo, fiel e cheio de gratidão.
Cláudio Ribeiro
Jornalista – Escritor – Compositor
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