
Excelentíssimo Senhor Governador,
Venho, por meio desta carta aberta, manifestar minha profunda preocupação e insatisfação com os rumos atuais da Rádio Educativa do Paraná, emissora que deveria ser um verdadeiro espaço de promoção da nossa cultura, da nossa música e da identidade paranaense e brasileira.
Não falo como alguém que rejeita estilos musicais ou que defende fronteiras culturais. Pelo contrário: sou apaixonado pela música em sua diversidade e pluralidade, tanto que também sou compositor. No entanto, lamento constatar que a emissora pública do Estado — que deveria valorizar prioritariamente a produção nacional e, mais ainda, a música feita por artistas paranaenses — tem cedido espaço considerável à execução de músicas estrangeiras, relegando ao esquecimento os talentos locais.
Tenho uma relação pessoal e histórica com esta rádio: fui um dos primeiros a apresentar um programa na emissora, dedicado à MPB e ao jornalismo cultural voltado para a divulgação da cultura brasileira. Naquela época, havia um compromisso claro com a difusão do que é nosso. Hoje, no entanto, sinto tristeza ao perceber que a Rádio Educativa não cumpre mais plenamente este papel, deixando de lado justamente a missão para a qual foi criada.
Vossa Excelência, que vem de uma família com tradição no rádio, sabe da importância deste meio de comunicação. Nenhum outro veículo conseguiu se adaptar tão bem às condições territoriais e sociais do Brasil. O rádio chegou onde escolas e instituições públicas não conseguiam chegar, levando educação, informação e cultura a populações das mais diversas regiões. Foi pioneiro na democratização do conhecimento, como já defendia Roquette Pinto, e até hoje permanece insubstituível pela sua agilidade e alcance.
Por isso mesmo, causa espanto que uma rádio pública — sustentada por todos os paranaenses — não esteja cumprindo o papel de valorizar aquilo que nos é mais caro: a nossa música, a nossa cultura, a nossa identidade. Se uma rádio educativa não dá espaço para os artistas locais, quem dará? Se não for ela a semear, no coração do povo, o apreço pelo que é feito em nosso Estado, quem o fará?
Acredito, Governador, que este é um ponto que merece sua atenção. A Rádio Educativa precisa voltar a ser um espaço de promoção da música brasileira e, especialmente, da produção cultural do Paraná. O excesso de estrangeirismos musicais nas emissoras educativas pode enfraquecer a valorização da cultura e identidade nacional.
A presença predominante de músicas estrangeiras limita o acesso dos ouvintes à produção local e regional.
Isso representa risco de perda de referências culturais próprias, prejudicando a formação crítica e cidadã. Essa não é apenas uma questão de gosto musical, mas de identidade, de pertencimento e de compromisso com a educação e a cultura do nosso povo.
Peço, respeitosamente, que o Governo do Estado reavalie a linha editorial da emissora e promova uma reorientação de sua programação, para que ela volte a cumprir a sua missão original: educar, informar e, sobretudo, valorizar os artistas da terra que, como eu, continuam a produzir, mesmo diante da invisibilidade.
Certo de que Vossa Excelência compreende a importância deste tema, agradeço a atenção e espero que esta carta contribua para o debate necessário sobre o papel da Rádio Educativa na preservação e promoção da nossa cultura.
Atenciosamente,
Cláudio Ribeiro
Compositor e comunicador cultural
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