
Como transformar bravatas em bumerangues políticos.
E então, de repente em que o mundo parece escrito por um roteirista de sátiras, Donald Trump, do alto da sua insanidade estratégica, resolveu mirar suas baterias comerciais contra o Brasil. Subiu em 50% as tarifas sobre produtos brasileiros e mandou uma carta oficial ao governo. Como quem diz: “Tá feito, abracem-se com isso”.
Mas, veja só, Trump não mirou o inimigo. Mirou no pé… e acertou no próprio calcanhar da extrema-direita bolsonarista brasileira.
Porque os principais atingidos por esse tarifácio são justamente os pilares do bolsonarismo: o agronegócio e a indústria do aço. A Gerdau, que por muito tempo fez sombra aos corredores do poder, e o latifúndio moderno, que planta soja e colhe influência política. São eles que financiam, sustentam e alimentam o monstro da retórica radical.
Trump — aquele mesmo que já mandou recados de apoio a Jair Bolsonaro como se o Brasil fosse um quintal barulhento da sua mansão — resolveu jogar gasolina no terreiro errado. E, ironicamente, quem corre risco de se queimar são justamente seus amigos ideológicos no Brasil.
O filho 03, Eduardo Bolsonaro, fez o que se espera de quem vive no mundo paralelo das redes sociais: comemorou. Postou, sorriu, prometeu mais. Não entendeu que o rojão vai explodir no colo do próprio bolsonarismo. É como se o açougueiro batesse no boi que lhe dá o bife. Um vexame geopolítico e uma contradição econômica.
Enquanto isso, Lula — que já entendeu que, às vezes, o melhor movimento é não se mexer — só precisa acionar o Itamaraty. Devolver o problema com elegância, sem gritar. Se for hábil, entrega nas mãos do corpo diplomático e deixa Trump e os bolsonaristas se entenderem entre si. O problema é deles. Do lado de cá, o Judiciário é que cuida do caso Bolsonaro. O Executivo, se souber jogar xadrez, pode até sair engrandecido dessa confusão.
O curioso — e talvez trágico — é que a extrema-direita internacional está se devorando. Trump quer vingar-se em nome de Bolsonaro, mas o faz atacando o Brasil real — o Brasil que exporta, que produz, que paga em dólar e sustenta a base da economia. O resultado? O agro começa a coçar a cabeça. A indústria do aço reclama baixinho. A Embraer já revira os olhos. E daqui a pouco, alguém do próprio bolsonarismo vai perguntar: “Ei, vocês querem acabar com a direita no Brasil?”.
Trump responde com tarifas. Eduardo Bolsonaro responde com posts. Lula, se for esperto, responde com silêncio e diplomacia. Porque, nesta batalha, quem fala demais… entrega o jogo.
E no final, quem atira no próprio pé precisa aprender a mancar com elegância — se é que isso é possível.
Cláudio Ribeiro
Jornalista – Compositor
Graduação em Direito
Pós-graduação em Ciências Políticas
História do Brasil
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