
Fraudes promovidas por criminosos são impulsionadas por plataformas digitais, como Google e Facebook, atingindo brasileiros com promessas falsas e perdas financeiras
A cada dia, brasileiros se deparam com novas modalidades de golpe na internet, muitas vezes travestidas de oportunidades tentadoras. O mais alarmante é que, para aumentar o alcance de suas fraudes, os golpistas estão recorrendo a anúncios pagos — contratando serviços de grandes plataformas como Google e Meta (dona do Facebook e Instagram) para disseminar iscas disfarçadas de anúncios legítimos.
Esses anúncios aparecem para usuários com perfis cuidadosamente selecionados por algoritmos, o que eleva ainda mais o risco de engano. Um exemplo recente que circula pelo Facebook é o de uma suposta empresa chamada Prod. Weydermann – Sonho em Som, que alega produzir gravações musicais profissionais a preços extremamente baixos. O público-alvo? Compositores iniciantes, músicos independentes e artistas que sonham em gravar suas composições, mas não têm recursos para estúdios convencionais.
“A promessa era de que eu teria minha música gravada com arranjos profissionais por apenas R$ 97. Achei que era uma oportunidade de ouro. Só depois percebi que era tudo falso. Perdi dinheiro e nem sequer recebi retorno”, conta o músico R.R., que preferiu não se identificar completamente.
Promessas irrealistas, prejuízos reais
As ofertas muitas vezes incluem frases como “seu sucesso começa aqui”, “produção completa por menos de R$ 100” ou “grave seu sonho agora”. Em comum, todos os anúncios usam linguagem emocional, depoimentos forjados e identidades falsas para parecerem confiáveis. E o mais grave: aparecem como conteúdo patrocinado — ou seja, pagos pelos próprios golpistas.
Para especialistas em segurança digital, o problema evidencia uma brecha grave na regulação das plataformas. “Essas empresas têm tecnologia suficiente para detectar conteúdos fraudulentos, mas a fiscalização é frouxa quando envolve dinheiro. Enquanto estiverem lucrando com a veiculação dos anúncios, a responsabilidade é empurrada para o usuário lesado”, afirma a advogada Carolina Motta, especialista em direito digital.
Regulação se torna urgente
A situação reacende o debate sobre a regulação das big techs no Brasil, especialmente com o avanço do Projeto de Lei das Fake News (PL 2630), que busca responsabilizar plataformas por conteúdos enganosos impulsionados financeiramente.
“A partir do momento em que um anúncio é pago, a plataforma se torna corresponsável. É como uma emissora aceitar dinheiro para transmitir um comercial de uma empresa fraudulenta. Isso não pode continuar impune”, completa Motta.
Enquanto a legislação não avança, a recomendação é que os usuários redobrem a cautela: desconfiem de promessas muito vantajosas, verifiquem a reputação da empresa e evitem fazer pagamentos a sites desconhecidos. Para os golpistas, o investimento em anúncios pagos compensa. Para as vítimas, o prejuízo é sempre maior.
Quando incauto tenta o contado com esses oportunistas se da de cara com a seguinte mensagem:
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Golpes “desaparecem” após denúncias
Em muitos casos, após denúncias ou reclamações públicas, os anúncios fraudulentos desaparecem repentinamente das redes sociais. Quando isso acontece, geralmente é porque o golpista excluiu o conteúdo, restringiu a visibilidade para evitar exposição, ou a plataforma removeu a publicação após identificar o abuso. Isso dificulta o rastreamento, enfraquece a responsabilização e evidencia ainda mais a necessidade de mecanismos transparentes e eficazes de denúncia e fiscalização.
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