O Perfume da Dracena

 

Entre folhas e sombras, o sussurro perfumado da dracena – Crônica 

Você já sentiu o perfume da dracena? Não falo de um aroma qualquer, desses de loja de essências ou frascos elegantes, mas daquele cheiro vivo, bruto e delicado ao mesmo tempo, que só uma planta de verdade pode oferecer. A dracena exala um perfume quase secreto, feito sopro de floresta adormecida. Seu aroma não invade — antes, desliza pelos sentidos com a delicadeza de uma promessa sussurrada. Há na sua essência o frescor da terra recém-lavada pela chuva e uma doçura discreta, como se cada folha guardasse, no silêncio, um fragmento do trópico e da memória. É um cheiro que permanece à margem, convidando a alma a seguir-lhe o rastro sem jamais revelar inteiramente seu mistério. Lá na minha casa de praia tem um pé. É quase um ritual: chega o outono – inverno, e junto deles vem esse perfume inconfundível, como se o frio trouxesse um segredo guardado só para os atentos.

Na roça, o caboclo chama de pau-d’água. Nome forte, enraizado na terra e na simplicidade do interior. A dracena é altiva, mas sua florada é discreta – quem não olha com cuidado pode até passar batido. A inflorescência se alonga, pendurada como um adorno esquecido, cheia de pequenos “pompons” de flores brancas-roseadas. Durante o dia, guardam-se; estão fechadas, quietas, quase sem vida aparente. Mas é ao entardecer que se revelam: um espetáculo sem plateia, abrindo-se devagar e liberando aquele perfume intenso que toma conta do ar.

Às vezes penso que a dracena entende de tempo e espera o momento certo para ser notada. Ela não tem pressa. Ensina, na sua delicadeza, que há beleza no ciclo natural das coisas, que nem tudo precisa acontecer sob a luz escancarada do dia. Seu perfume me lembra isso: que existem encantos reservados para quem sabe esperar, para quem respira fundo e se deixa surpreender pelo que é simples e verdadeiro.

E assim, enquanto o outono – inverno se instalam, minha casa de praia se transforma. O frio corta, mas o ar ganha essa doçura sutil. Caminhar pelo jardim ao entardecer vira quase um ato de gratidão – como se, entre as folhas e a brisa que vem do mar, a dracena me desse de presente um instante de paz, envolto em fragrância.

Talvez seja isso que mais me toca: a generosidade silenciosa da natureza. A dracena não pede aplausos nem atenção. Apenas cumpre seu ciclo, exalando beleza onde muitos só enxergam costume. E todo inverno, ao sentir novamente aquele perfume, lembro que ainda sei me maravilhar.

Você já sentiu?

 

Cláudio Ribeiro

Jornalista – Compositor – Escritor

 

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