“Vermelho Brasil”.

 

“Uma camisa que transcende a política, resgata a essência do nosso país e permite torcer sem medo de rótulos.”

Não sei quem teve a ideia da camisa vermelha para a seleção brasileira, mas quero pagar um café — e um ansiolítico — pra essa pessoa. Finalmente, um uniforme que nos permite torcer pelo Brasil sem correr o risco de parecer que saímos direto de uma carreata com buzina, camiseta amarela e uma Constituição na churrasqueira.

Sim, amigos, a camisa vermelha é mais que uma escolha estética. É um grito abafado saindo da garganta do brasileiro médio, cansado de ver seu amor pela seleção sequestrado por quem acha que patriotismo se mede em memes do WhatsApp e lives aos berros.

Mas vamos aos fatos: vermelho é a cor do pau-brasil, a árvore que deu nome ao nosso país — e não, não é porque era fácil de encontrar. É porque sangrava. Sim, Brasil vem do brasa, do que arde, do que mancha, do que marca. Não do amarelo ouro de quem acha que elite é quem vai de jet ski ver o país afundar.

Adotar o vermelho na camisa é, portanto, um retorno às origens — e não às de 2018, mas às de 1500, quando começamos a ser explorados com entusiasmo europeu e seguimos assim, só que agora com 5G e boletos.

“Ah, mas vermelho é coisa de comunista”, dirá o tio do pavê, com a segurança de quem acha que Karl Marx foi lateral do Coritiba. Pois bem, se for pra escolher entre vermelho comunista e amarelo conspiracionista, fico com o vermelho. Pelo menos é a cor da vergonha na cara, que faz falta por aqui há tempos. Mas com a camisa vermelha, nasceu uma terceira via (finalmente uma terceira via que funciona!). O torcedor pode gritar “É TETRA!” sem medo de ser confundido com “É MITO!”. Pode ir ao estádio sem ter que explicar sua posição no espectro político. Pode até errar o nome dos jogadores novos — porque ninguém mais sabe quem é lateral da seleção — mas errar politicamente? Nunca mais!

E é curioso como a simples troca de cor revela tanta coisa. A camisa vermelha virou símbolo de quem quer torcer sem medo de ser mal interpretado. Porque hoje, no Brasil, até gritar “gol” pode ser um ato político. Torcer virou um campo minado: você pula de alegria e já tem alguém te perguntando se é a favor do agronegócio.

A nova camisa é um recado, sim. Diz: “meu amor pelo Brasil não está à venda, nem à disposição de palanque”. E mais: vermelho também é a cor da luta, do suor, do protesto, do sangue derramado — inclusive por tantos que sonharam com um país onde torcer não exigisse alinhar-se ideologicamente.

A camisa vermelha é um recomeço simbólico. Quem sabe, um dia, o Brasil volte a jogar bonito dentro de campo — e pare de dar vexame fora dele. Sem Moros e Bolsonaros… Sem anistia. Por enquanto, vestir vermelho é, no mínimo, um gol contra a hipocrisia.

E vamos combinar: se é pra passar vergonha na Copa, que pelo menos seja com estilo, consciência política e uma camisa que diga “eu sou brasileiro — mas não sou otário.”

 

Cláudio Ribeiro

Jornalista – Compositor – Escritor

 

 

 

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