
No coração das lendas que moldam a cultura brasileira, o Curupira surge como um símbolo ancestral da proteção da natureza.
De cabelos flamejantes e pés voltados para trás, ele é mais do que um personagem do folclore — é o retrato da resistência da floresta frente à destruição. Neste 17 de julho, celebramos o Dia do Protetor de Florestas, uma data que evoca tanto a mística da cultura popular quanto a coragem dos defensores reais da biodiversidade.
Entre o mito e a realidade: a força simbólica do Curupira
A figura do Curupira habita o imaginário popular brasileiro há séculos, sendo passada de geração em geração pelos povos indígenas e por comunidades tradicionais. Seu poder está justamente na função que representa: a defesa implacável das matas. Com pegadas que confundem caçadores e lenhadores, ele se vale do engano para proteger os seres da floresta.
Segundo a lenda, aqueles que desrespeitam a vida silvestre são vítimas de armadilhas fatais criadas pelo protetor encantado. Mas o Curupira também tem seu lado justo — dizem que índios e moradores da floresta deixavam oferendas em sua homenagem, em sinal de respeito e pedido de permissão para coexistir com a natureza.
Florestas: muito além da paisagem
Mais do que um conjunto de árvores, as florestas são organismos vivos, essenciais para o equilíbrio do clima, da água, dos ventos e da biodiversidade. No Brasil, o maior exemplo é a Floresta Amazônica, considerada o maior bioma tropical do planeta. Sua vastidão abriga milhões de espécies e culturas indígenas, além de regular a temperatura e os ciclos das chuvas de todo o continente.
Conforme definição da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), uma floresta é uma área com mais de 0,5 hectare, árvores de pelo menos 5 metros de altura e cobertura de copa superior a 10% — excluindo zonas agrícolas ou urbanas. Definições técnicas à parte, o valor das florestas ultrapassa qualquer métrica econômica.
Dos heróis folclóricos aos heróis reais
Se o Curupira habita o reino do imaginário, o Brasil também teve e ainda tem protetores de carne e osso, que arriscam — e muitas vezes perdem — suas vidas em defesa do verde.
Entre eles, o nome de Chico Mendes ecoa como um marco de luta. Líder seringueiro e ambientalista, ele enfrentou madeireiros, políticos e grandes interesses econômicos para proteger a Amazônia e os povos da floresta. Sua luta custou-lhe a vida em 1988, mas acendeu um alerta global.
Assim como ele, a missionária Dorothy Stang, assassinada em 2005, foi voz ativa contra a grilagem de terras e o desmatamento no Pará. Sua morte trágica expôs os perigos enfrentados por quem se opõe à destruição ambiental e revelou o rosto de uma guerra silenciosa em curso nas matas brasileiras.
Os novos curupiras: ativistas, cientistas e educadores
Hoje, milhares de ativistas, indígenas, quilombolas, professores, engenheiros florestais, biólogos e líderes comunitários assumem o papel de “curupiras contemporâneos”. São homens e mulheres que lutam diariamente contra o avanço ilegal do desmatamento, das queimadas e da exploração predatória dos recursos naturais.
Muitos enfrentam ameaças constantes, vivendo sob risco em regiões remotas do país. Mesmo assim, persistem, impulsionados pela certeza de que o futuro da humanidade depende da preservação dos ecossistemas naturais.
Cultura é resistência
No Portal Brasil Cultura, reconhecemos que a cultura é uma forma de resistência. Celebrar o Curupira é resgatar a memória coletiva de um povo que entende que floresta é sagrada, que natureza tem dono — e o dono é a própria vida.
Neste 17 de julho, mais do que lembrar uma data, é hora de reafirmar nosso compromisso com o meio ambiente, com a valorização dos saberes tradicionais, e com os guardiões da floresta — reais e lendários. Que a força do Curupira inspire novas gerações a proteger o verde que ainda pulsa em nosso território.
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