O Baile da Ilha Fiscal

baile da ilha 01O Baile da Ilha Fiscal ocorreu no dia 9 de novembro de 1889, em homenagem aos oficiais do navio chileno “Almirante Cochrane”. Realizado na ilha Fiscal, no centro histórico do Rio de Janeiro, então capital do Império, foi a última grande festa da monarquia antes da Proclamação da República Brasileira, a 15 desse mesmo mês e ano.

Inicialmente marcado para o dia 19 de outubro, foi adiado por ocasião da morte do rei Luís I de Portugal (1861-1889), sobrinho de Pedro II do Brasil.

Estima-se que cerca de três a cinco mil pessoas participaram do baile (conforme as fontes), marcado pelo excesso e pela extravagância: a ilha foi enfeitada com balões venezianos, lanternas chinesas, vasos franceses e flores brasileiras. Na parte de trás do palacete foram montadas duas mesas, em formato de ferradura, onde foi servido um jantar para quinhentos convidados, sendo 250 em cada uma. Entre as iguarias, servidas em pratos ornamentados com flores e frutas exóticas, foram consumidos:baile da ilha 02

  • 800 kg de camarão

  • 1.300 frangos

  • 500 perus

  • 64 faisões

  • 1.200 latas de aspargos

  • 20.000 sanduíches

  • 14.000 sorvetes

  • 2.900 pratos de doces

  • 10.000 litros de cerveja

  • 304 caixas de vinhos, champagne e bebidas diversas

Uma banda, instalada a bordo do “Almirante Cochrane”, o navio homenageado, tocou valsas e polcas madrugada adentro.

“Dançou-se muito no baile da Ilha Fiscal, mas o que os convidados não imaginavam, nem o imperador D. Pedro II, é que se dançava sobre um vulcão. À mesma hora em que se acendiam as luzes do palacete para receber os milhares de convidados engalanados, os republicanos reuniam-se no Clube Militar, presididos pelo tenente-coronel Benjamin Constant, para maquinar a queda do Império. “Mais do que nunca, preciso sejam-me dados plenos poderes para tirar a classe militar de um estado de coisas incompatível com sua honra e sua dignidade”, discursou Constant na ocasião, tendo como alvo justamente o Visconde de Ouro Preto. Longe dali, ao lado da família imperial, o visconde desmanchava-se em sorrisos ao comandar seu suntuoso festim. A família imperial chegou ao cais pouco antes das 10 horas. D. Pedro II, fardado de almirante, a imperatriz Teresa Cristina e o príncipe D. Pedro Augusto embarcaram primeiro. Quinze minutos depois foi a vez da princesa Isabel e do conde D’Eu. Uma vez no palácio, foram conduzidos a um salão em separado, onde já se achavam reunidos membros do corpo diplomático estrangeiro oficiais e alguns eleitos da sociedade carioca. O guarda-roupa da imperatriz não chegou a causar impressão especial entre os convidados – um vestido de renda de chantilly preta, guarnecido de vidrilhos. A toalete da princesa Isabel, no entanto, causou exclamações de admiração pelo luxo e pela beleza. Ela portava uma roupa de moiré preta listada, tendo na frente um corpinho alto bordado a ouro. Nos cabelos, carregava um diadema de brilhantes. “[1]

Um fato irônico, até hoje não confirmado, ocorreu logo após a chegada da família real, às 10 horas da noite: conta-se que D. Pedro II, ao entrar no salão do baile, desequilibrou-se e levou um tombo. Ao recompor-se, exclamou: O monarca escorregou, mas a monarquia não caiu!

Outro acontecimento curioso ocorreu no término da festa. Às 5 horas da manhã, após a saída dos convidados, os trabalhos de limpeza revelaram alguns artigos inusitados espalhados pelo chão: além de copos quebrados e garrafas espalhadas, foram recolhidas condecorações perdidas e até peças de roupas íntimas femininas. O fato pode, entretanto, ser fictício, uma vez que foi relatado na coluna humorística Foguetes, do periódico carioca “O Paiz”, no dia 12 de novembro.

Referências

 

Bibliografia

  • SILVA, Hélio. Nasce a República. São Paulo: Três, 1975. p. 71.

  • REY, Marcos. Proclamação da República. São Paulo: Ática, 2003. p. 10.

  • CALDEIRA, Jorge. Viagem pela História do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 222. ISBN 8571646589

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