Carnaval de Londrina agoniza quase morre.

Ao lado de Antonina, Tibagi, Paranaguá, Cornélio Procópio e Curitiba, a cidade de Londrina já foi considerada com um dos melhores desfiles de Escolas de Samba do Paraná. O Carnaval é uma grande festa popular vivenciada na alma do povo revelando profundos sentimentos. Cada região do Brasil adaptou o carnaval e o incrementou com suas tradições, costumes e crenças regionais. Assim fez o londrinense com seu carnaval e suas Escolas de Samba. O povo de Londrina mereceria mais sorte. As administrações do município nunca tiveram uma preocupação em formar tradição em um especifico espaço físico para as apresentações e assim os desfiles ao longo do tempo, aconteceram em vários locais da cidade: Rua Quintino Bocaiuva, Avenida Maringá, Avenida Leste Oeste e, nos últimos anos o Autódromo de Londrina foi transformado em Sambódromo. O sambista resistindo como um bravo. Dificultando o acesso do publico, distante do centro, sem ter uma promoção e divulgação a contento, mas mesmo assim se transformou em palco de grandes espetáculos e grandes desfiles, movimentando o público e atraindo turistas das cidades vizinhas. Gerando trabalho e renda.
Havia uma pequena verba municipal destinada ao Carnaval, mas com o passar do tempo as coisas foram mudando. Sem Política Cultural esqueceram que Carnaval é Cultura e CULTURA – é o conjunto de atividades e modos de agir, costumes e instruções de um povo. É o meio pelo qual o ser humano (homem e mulher, carnavalescos ou não) se adapta às condições de existência transformando a realidade.
O poder municipal descumpriu com o dever de zelo com a cultura popular, e desde que isso aconteceu às escolas de samba de Londrina passaram a depender de migalhas, a qualidade dos desfiles desabaram, e muitas escolas com grande tradição entre elas a Quilombo dos Palmares, Unidos do Jardim do Sol, Garotos Unidos da Zona Sul entre outras simplesmente desapareceram. Os gestores públicos esqueceram que a Constituição Federal prevê diversos instrumentos através dos quais deve ser feita a preservação do patrimônio cultural e impõe ao Estado (município) e à sociedade a obrigação de atuar na efetiva defesa do patrimônio cultural. E o carnaval, Escolas de Samba e Blocos Carnavalescos pertencem ao patrimônio cultural.
Na administração anterior o então secretario de cultura, artista ligado a dança, chegou a dividir uma verba que seria para as Escolas de Samba, para a realização de um show que resultou em um grande fracasso colaborando ainda mais para p enfraquecimento de uma festa feita justamente por quem mais trabalha e menos recebe da riqueza produzida: o povo.
O que os carnavalescos e sambistas gostariam era que o poder publico pudesse firmar parcerias, convênios, acordos, compromissos e ajustes visando a defesa do carnaval e de outras manifestações que não são atendidas pela prefeitura. A cultura não é nunca particular, mas sempre pública. O sambista londrinense alerta aos vereadores e ao prefeito que os bens simbólicos como as práticas culturais continuam sendo objeto de lutas sociais.
Seria papel da secretária de Cultura, Solange Batigliana dar visibilidade, estimular e valorizar a produção cultural local, mas não há qualquer entusiasmo por parte da chefe da pasta, com relação ao carnaval, fazendo com que alguns acreditem ser o fato da responsável pela cultura ter envolvimento religioso muito grande. O Estado é laico e um Estado laico defende a liberdade religiosa a todos os seus cidadãos e não permite a interferência de correntes religiosas em matérias das manifestações culturais.Verdade ou não a secretaria de cultura deveria defender a manifestação da cultura popular até porque muitas das manifestações culturais brasileiras estão identificadas com a população negra o carnaval e o samba, capoeira, Hip Hop e muitas outras são lembradas como parte da grande contribuição dos negros para a cultura brasileira. Toda a música brasileira é influenciada, de uma forma ou de outra, pelo samba, que é definido por alguns historiadores como uma dança típica brasileira originada do batuque africano. No samba, assim como no Hip Hop, exclusão social e preconceito racial são evidenciados. Exclusão clara que acontece hoje com carnaval feita pela prefeitura de Londrina e seu prefeito Alexandre Kireeff.
Como numa corrida de obstáculos, o carnaval de Londrina percorreu caminhos acidentados até ser reconhecido pela população. Nesse processo os sambistas, instrumentistas, percussionistas e carnavalescos do samba urbano londrinense jogarão um papel decisivo, denunciando que no palco de disputas montado em torno dos destinos da cultura popular como os desfiles das Escolas de Samba de Londrina que não tendo verbas especificas do poder público, não faltam ataques de fundo racista. Como diria a saudosa Dona Vilma Santos de Oliveira, “Yá Mukumby”, respeitada líder do movimento negro, falecida o ano passado: “O Poder Público, que jamais respeitou negros e mestiços continua desrespeitando, não reconhecendo nossas manifestações”.

Cláudio Ribeiro*
Jornalista – Compositor

 

* Jornalista. Radialista. Poeta, Escritor e Compositor com formação em Direito.

Parceiro de Cartola, Claudionor Cruz, Sebastião Tapajós, Homero Réboli, Lydio Roberto, Edson Abdala, Pededro Perereca, Tony Bonfá, Antônio Carlos (Tony Bandolim), Carlos Mattar, Reinaldo Carvalho (Bola) e Gerson Bientinez.

Autor entre tantas composições, do Hino Oficial do Coritiba F. C.

Integrante da “Ala de Compositores” da Estação Primeira de Mangueira.

Fundou com Ricardo Cravo Albin e Aramis Millarch a Associação Brasileira de Pesquisadores da MPB no ano de 1975.

Entre os anos de 1980 e 1987, idealizou, coordenou e apresentou diversos projetos e eventos na área musical da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná, entre os quais “Arco da Velha”, “Sexta na Praça”, “Festival de Inverno” e “Abre Alas”.

Historiador de MPB e comentarista na área cultural desenvolveu trabalhos no campo do Jornalismo Cultural.

Foi o estruturador e primeiro diretor da “Divisão de Música”, da Secretaria de Estado da Cultura, recebendo do Governador, pelos serviços prestados à Arte e Cultura paranaense, o reconhecimento do “Notório Saber”.

Escreveu para a “Brasil Cultura” e o jornal cultural “Quixote”. Atuou como colunista do jornal “Correio Paranaense”.

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