Morre Zuza Homem de Mello

 

Morreu na madrugada deste domingo, o músico, jornalista, escritor, crítico, especialista em história da música brasileira, José Eduardo Homem de Mello, o Zuza Homem de Mello, aos 87 anos. De acordo com nota publicada pela família em redes sociais, Zuza morreu de infarto em casa enquanto dormia em seu apartamento, no bairro de Pinheiros, em São Paulo. O velório será reservado para familiares.  A nota assinada pela esposa Ercília Lobo, filhos e netos diz o seguinte: “Com enorme dor no coração comunico que perdemos nosso querido Zuza. Ele morreu dormindo, de infarto, após termos brindado na noite de ontem todos os projetos bem sucedidos. Em 35 anos de uma vida compartilhada, pude testemunhar o amor desse homem pela vida, pelo seu trabalho e pela música. Zuza nos deixou em paz após viver uma vida plena!”.

 

No sábado, Zuza havia estreado nos canais digitais do @sescsp a participação em uma série intitulada “Muito Prazer, Meu Primeiro Disco”, que trata do disco de estreia de grandes nomes da música brasileira, exaltando ao LP “Louvação”, de Gilberto Gil. Na última terça, dia 29 de setembro, ele havia finalizado uma biografia sobre João Gilberto, que seria publicada até o final do ano. Zuza tinha uma ligação muito forte com Porto Alegre e todo o ano estava pela cidade, mais recentemente nas edições do Poa Jazz Festival, onde foi homenageado na 4ª edição em 2018 e teve o documentário “Zuza Homem de Jazz”, em novembro de 2019, no StudioClio, dentro da programação do 5º Poa Jazz. O documentário fala de sua ligação com o gênero no tempo em que viveu e estudou nos Estados Unidos, nos anos 1950, e o reencontro com amigos como Bob Dorough, Gary Giddins, Steve Ross, Eric Comstock, Wynton Marsalis e Maria Schneider.

 

Zuza Homem de Mello atuou como baixista profissional nos anos 1950, Em 1955, abandonou o curso de engenharia para dedicar-se à música. No ano seguinte, passou a assinar colunas de jazz para os jornais paulistanos Folha da Noite e Folha da Manhã. Em 1957, passa a frequentar a School of Jazz, em Tanglewood, EUA, onde teve aulas com Ray Brown e outros músicos. Em 1957 e 58, estudou musicologia na Juilliard School of Music, de Nova Iorque. De volta ao Brasil em 1959, Zuza ingressou na TV Record, onde permaneceu por cerca de dez anos. Ao longo desse período, trabalhou como engenheiro de som nos programas de MPB e festivais da emissora, e booker na contratação de astros internacionais. Neste período, passou a realizar palestras e cursos sobre Música Popular Brasileira e Jazz.

 

Nos anos 1970 e 1980, concentra suas atividades no rádio e na imprensa, produzindo e apresentando o Programa do Zuza, na Rádio Jovem Pan AM; críticas de música popular em O Estado de S. Paulo e para as revistas SomTrês, Nova, entre outras. Em 1997, coordenou a Enciclopédia da Música Brasileira, e em 1982, ao lado de Tárik de Souza, planejou e coordenou a terceira edição da coleção didática História da Música Popular Brasileira, da Editora Abril. Com uma larga experiência como produtor e diretor musical, Zuza dirigiu nos anos 70 a série de shows O Fino da Música, no Anhembi, em São Paulo, que apresentava nomes conhecidos como o conjunto regional do Canhoto, Elis Regina, Elizeth Cardoso, João Bosco, Ivan Lins e Alcione, entre outros.

 

Nos anos 90, assumiu a direção geral das três edições do Festival Carrefour, que revelou nomes como Chico César, Lenine, Sérgio Santos e Zélia Duncan. Na televisão, apresentou a série “Jazz Brasil” pela TV Cultura e na área fonográfica produziu discos de Jacob do Bandolim, Orlando Silva, Fafá Lemos e Carolina Cardoso de Meneses, Elis Regina. Jornalista convidado para os mais importantes festivais de música do mundo, como Montreux, Edimburgo, Nova Iorque, New Orleans, Barbados, Paris, Midem de Cannes, Tóquio, Montreal e Perugia, Zuza integrou a equipe dos dois Festivais de Jazz de São Paulo (1978 e 80) e foi curador do elenco do Free Jazz Festival desde sua primeira edição, em 1985, e depois do seu sucessor, Tim Festival. Foi membro e ex-presidente da Associação dos Pesquisadores da MPB. Era integrante da Academia Paulista de Letras. Seu primeiro livro foi “Música Popular Brasileira Contada e Cantada” (Melhoramentos, 1976) e o mais recente foi “Copacabana – A trajetória do samba-canção (1929-1958)” (Editora 34/Edições Sesc, 2017).

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