Na Academia Brasileira de Letras, tudo dentro dos padrões, como sempre

No dia30 de agosto a Academia Brasileira de Letras escolheu o próximo a se tornar um “imortal” ao ocupar a cadeira de número 7 da organização, vaga desde a morte do cineasta Nelson Pereira dos Santos, em abril. Havia uma ampla torcida para que a escritora Conceição Evaristo se tornasse a primeira mulher negra a integrar o seleto grupo composto majoritariamente por homens brancos. Mas ABL perdeu a oportunidade de fazer história e elegeu o também cineasta Cacá Diegues.

 

Por Mariana Serafini

Joyce Fonseca Conceição Evaristo seria a primeira mulher negra a integrar a ABL Conceição Evaristo seria a primeira mulher negra a integrar a ABL

Vale ressaltar que nem Conceição, nem Cacá, são “vilões” nesta história. Ambos têm uma obra notável e estão aptos – mais até que muitos dos membros – a integrar a ABL. A questão é que a nomeação da escritora mineira seria um marco histórico da organização que nunca teve uma mulher negra entre seus imortais.

 

O primeiro presidente da ABL foi Machado de Assis, o escritor que ao longo da história uma narrativa hegemônica tentou embranquece-lo e só após uma ampla luta do movimento negro é que ele foi “apresentado” como de fato era, um homem negro. Ele deixou a presidência da instituição em 1908 e só agora, 110 anos depois, é que uma mulher negra chegou perto de ocupar uma das cadeiras.

 

A instituição também nunca reconheceu muitas escritoras ao longo de sua história, até hoje apenas oito ocuparam cadeiras na ABL, são elas: Ana Maria Machado (Cadeira 1); Rachel de Queiroz (Cadeira: 5); Dinah Silveira de Queiroz (Cadeira: 7); Cleonice Berardinelli (Cadeira: 8); Rosiska Darcy de Oliveira (Cadeira: 10); Lygia Fagundes Telles (Cadeira: 16); Zélia Gattai (Cadeira: 23) e Nélida Piñon (Cadeira: 30).

 

Se nomeada, Conceição Evaristo seria a nona mulher e primeira negra. Ela é, atualmente, uma das escritoras mais reconhecidas do país. A autora de obras como “Ponciá Vicêncio”, “Becos da Memória” e “Histórias de leves enganos e parecenças” nasceu numa favela em Belo Horizonte, trabalhou como empregada doméstica, até se mudar para o Rio de Janeiro, aos 25 anos, onde passou num concurso público para o magistério. Graduou-se em Letras, é mestra em Literatura Brasileira pela PUC-Rio e doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense.

 

O novo imortal

 

Cacá Diegues foi o premiado da noite e passou a ocupar a cadeira número 7, deixada por Nelson Pereira dos Santos. Aos 78 anos ele está prestes a lançar seu nono longa-metragem “O grande circo místico” e é considerado um dos maiores cineastas do país.

Aos 78 anos, Cacá Diegues está prestes a lançar seu nono longa-metragem

 

O diretor alagoano já concorreu três vezes à Palma de Ouro, principal prêmio do Festival de Cannes e tem mais de 20 filmes no currículo, entre eles, clássicos como “Xica da Silva” (1976), “Quilombo” (1984), “Orfeu” (1999) e “Deus É Brasileiro” (2003).

 

Em 2014, ele lançou a autobiografia “Vida de Cinema”, que repassa momentos marcantes de sua carreira, como a relação com os também cineastas Glauber Rocha e Joaquim Pedro de Andrade.

 

Antes de Cacá, a Cadeira 7 já pertenceu a nomes como o do escritor Euclides da Cunha e do fundador da ABL Valentim Magalhães – que escolheu como patrono Castro Alves. Outros ocupantes: Euclides da Cunha, Afrânio Peixoto, Afonso Pena Júnior, Hermes Lima, Pontes de Miranda, Dinah Silveira de Queiroz e Sergio Corrêa da Costa.

 

Do Portal Vermelho

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