Jards Macalé, vanguardista reincidente

 

Um dos principais nomes da vanguarda musical, Jards Macalé volta a se apresentar em show acústico em São Paulo, no dia 8 de abril, na Casa Natura Musical. Quem apoia nosso jornalismo de profundidade e sem catracas concorre a quatro ingressos e tem desconto de 40%.

“Tropicalismo é uma forma antropofágica de relação com a cultura, senhoras e senhores. Devoramos a cultura que nos foi dada para exprimir nossos valores culturais (…) A estrutura desse programa se assemelha ao ritual de purificação e modificação, e utiliza para isso as formas mais fortes de comunicação de massa, tais como: missa, carnaval, dramalhão, candomblé, teatro, cinema, sessão espírita, poesia popular, chacrinha, discurso, demagogia, sermão, orações, ufanismo, revolução, transplante, saudosismo, regionalismo, bossa, americanismo, turismo e getulismo”.

Foi assim que Jards Macalé recitou em “Infinita Tropicália” o texto de Torquato Neto, que declarou Oswald de Andrade como o grande pai do Tropicalismo. Torquato apareceria no primeiro álbum de Jards Macalé, lançado em 1972 –  longe de ser a primeira contribuição de Macalé para a cena musical e artística  do Brasil. Jards tocou nos espetáculos teatrais de resistência do Grupo Opinião, assinou a direção artística das primeiras apresentações de Maria Bethânia e compôs trilhas para os filmes dos cinemanovistas Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos . Ainda em 1971, Macalé foi para Londres a convite de Caetano Veloso – então exilado – e se tornou violonista solo e produtor musical do álbum Transa, um dos mais aclamados do tropicalismo.

Depois de sua participação em Transa, tomoucaminhos distintos de seus parceiros do tropicalismo. Lançou seu primeiro LP e em 1973 realizou o show beneficente Banquete dos Mendigos, que logo ganhou tom político ao celebrar a Declaração Universal dos Direitos Humanos em pleno governo Médici, o mais violento da ditadura militar. Em seu último disco, Besta Fera, fecha parcerias com nomes como Ava Rocha, Kiko Dinucci e Romulo Fróes, músicos mais jovens e igualmente comprometidos com a inovação.

Consistentemente vanguardista, várias de suas composições estão entre as mais lembradas da música brasileira. Músicas como Vapor Barato (a versão de estúdio lançada em 1971 por Gal Costa registra uma das guitarras mais pesadas e distorcidas já gravadas no Brasil até aquele momento), Movimento dos Barcos Hotel das Estrelas, entraram para a história na voz de suas então parceiras Gal e Bethânia. Outras, a exemplo de Soluços, Negra Melodia e Gotham City, têm caído no gosto da juventude na voz do próprio Macalé, no seio do atual movimento de redescoberta e revalorização de sua carreira.

Macalé não é, porém, algo como um compositor comum com tino radiofônico: os grandes momentos de seu trabalho estão ligados a uma operação muito sofisticada em que ele insere elementos líricos e musicais  extremamente inovadores e avançados, muitas vezes oriundos das vanguardas artísticas brasileiras dos anos 50 e 60, em canções que, por outro lado, também bebem do gosto popular e da cultura de massas. Esse é o mérito maior de sua obra, que merece toda a celebração que vem ganhando.

Hoje em dia, não passa de clichê falar de Jards Macalé como um “maldito da MPB”, lugar comum das caracterizações mais rasteiras de seu trabalho. O que interessa é que Jards ousou política e esteticamente em sua carreira, que marcou época com sua voz, sua guitarra, sua caneta e sua visão e que está aí até hoje compondo, gravando e se apresentando, sem parar de inovar. Quem quiser ver e ouvir para tirar a prova, pode comparecer às 22h do dia 8 de abril na Casa Natural Musical para ver o show Jards Macalé – Voz, violão e percussão. Mais informações no site.

Fonte: Outras Palavras

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