Despejo do Instituto Palmares, dedicado à cultura negra, preocupa produtores da Lapa no Rio

Há 28 anos ocupando o sobrado de número 39 na Avenida Mem de Sá, na Lapa, o Instituto Palmares de Direitos Humanos (IPDH) foi despejado nesta terça-feira por uma ordem de reintegração de posse, emitida a pedido do governo estadual. A ação, ocorrida na véspera de uma vistoria que estava agendada pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa nos imóveis que compõem o Corredor Cultural da Lapa, deixou os produtores da área apreensivos com a possibilidade de que outros projetos venham a ser removidos.

 

 

Fundada em 1989, a ONG abrigava no espaço ateliês de teatro, encontros, seminários e cursos preparatórios comunitários. O imóvel, que havia sofrido um incêndio em 2011, vinha sendo reconstruído com recursos da ONG, que arrecadava fundos para a construção de um telhado provisório. Em setembro de 2018, a reintegração de posse foi determinada pela Justiça, após encerrado o prazo para desocupação voluntária. Contudo, representantes do IPDH aguardavam a visita da Secretaria para negociar um novo prazo para finalizaras obras.

 

— Recuperamos toda a parte elétrica e hidráulica, e continuamos com a nossas atividades culturais. A ordem de despejo pegou todo mundo de surpresa. Quando recebi o telefonema estava planejando as comemorações dos nossos 30 anos, que completamos em 2019 — conta Catarina de Paula, diretora administrativa do IPDH. — Esse espaço não era só nosso, mas de toda a comunidade negra. É uma perda enorme, ainda mais no momento em que o panorama para os jovens negros é tão desfavorável.

 

Assinado pela juíza Neusa Regina Larsen de Alvarenga Leite, o mandado de desocupação autorizava o Oficial de Justiça a arrombar o imóvel, caso necessário, e remover os bens que estiverm no interior do imóvel para um depósito público. Como havia um porteiro no prédio, não foi necessário arrombar a porta. A pedido de representantes do instituto, os bens foram levados para a sede da Federação de Blocos Afros e Afoxés do Rio de Janeiro (Febarj), que funciona em um imóvel ao lado.

 

 

Um ato está marcado para amanhã, às 14h. Fundado por Augusto Boal (1931-2009) em 1986 e ocupando o número 31 da Mem de Sá desde 2003, o Centro do Teatro do Oprimido espera uma política cultural para a região.

 

— Há uma forte especulação imobiliária, e ações desse tipo sempre levantam rumores. Queremos saber o que o novo governo vê como prioridade — diz Alessandro Conceição, um dos “curingas” do CTO, como são chamados os especialistas no método do Teatro do Oprimido.

 

Outro grande nome do teatro brasileiro que ocupa há três décadas um imóvel vizinho, Amir Haddad também espera que a área mantenha uma finalidade cultural. Após seu grupo, o Tá na Rua, ter de desocupar o Teatro Glauce Rocha, conforme adiantou a coluna de Marina Caruso, de O GLOBO, o diretor diz que uma ameaça ao Corredor Cultural da Lapa significaria o fim de toda uma vida de trabalho.

 

— Estamos com tudo em dia, não acredito que algo parecido aconteça com a gente. Mas há sempre o perigo de quererem transformar tudo em cervejarias — comenta Haddad. — Fomos os primeiros a levar a luz da cultura à Lapa, muito antes da sua revitalização. Esperamos que a área mantenha essa vocação.

 

Em nota, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa afirma que “um estudo está sendo realizado para entender a real situação do prédio e do processo de desapropriação, iniciado na gestão passada”.

 

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