A imortalidade do músico Gilberto Gil na Academia Brasileira de Letras

 

Músico e compositor assume a cadeira 20 da ABL criticando a hostilidade do governo contra artistas e a cultura

O cantor, compositor e ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil, foi empossado hoje como novo ocupante da cadeira 20 da Academia Brasileira de Letras (ABL), sucedendo ao jornalista e advogado Murilo Melo Filho. Gil foi recebido na ABL pelo também acadêmico Antonio Carlos Secchin.

Em seu discurso de posse, o imortal afirmou que a Academia Brasileira de Letras é a Casa da Palavra e da Memória Cultural do Brasil. “E tem uma responsabilidade grande no sentido de fortalecer uma imagem intelectual do país que se imponha à maré do obscurantismo, da ignorância, e demagogia de feição antidemocrática. Poucas vezes na nossa história republicana o escritor, o artista, o produtor de cultura, foram tão hostilizados e depreciados como agora”, denunciou, para aplausos da plateia.

“Há uma guerra em prol da desrazão e do conflito ideológico nas redes sociais da internet, e a questão merece a atenção dos nossos educadores e homens públicos. A ABL tem muito a contribuir nesse debate civilizatório. E eu gostaria, aqui, de colaborar para o debate, em prol da cultura e da justiça”.

Gil disse que, entre as tantas honrarias que a vida lhe proporcionou, entrar na ABL tem uma dimensão especial. “Não só porque a ABL é a casa de Machado de Assis, escritor universal, afrodescendente como eu, mas também porque a ABL representa a instância maior, que legitima e consagra, de forma perene, a atividade de um escritor ou criador de cultura em nosso país. Sou filho de uma professora primária e um médico. A eles devo o meu amor às letras e música. A imagem dos meus pais está comigo nessa noite e sua memória para mim é uma benção”, disse.

Em outro trecho Gil citou as alegrias e perdas ao longo da vida: “Tive grandes êxitos e alegrias nesta vida, mas também muitas tristezas, a maior e mais dolorosa, a perda do meu filho Pedro Gil. Mas não desanimo e é preciso resistir sempre. Apesar dos tempos politicamente sombrios que vivemos aposto na esperança contra a treva física e moral. Que haja ao menos a chama de uma vela até chegarmos a toda a luz do luar”.

Apesar de dizer que não cantaria, Gil acabou cantando durante o discurso, os versos: “Se a noite inventa a escuridão, a luz inventa o luar. O olho da vida inventa a visão, doce clarão sobre o mar”.

 

 

 

 

Eleição

Eleito com 21 votos no dia 4 de novembro do ano passado, Gilberto Gil vai estreitar os laços da Academia com a música e a cultura popular brasileira. O baiano Gilberto Passos Gil Moreira nasceu no dia 26 de junho de 1942, em Salvador, sendo filho primogênito do médico José Gil Moreira e da professora primária  Claudina Passos Gil Moreira.

Embaixador da Boa Vontade da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e nomeado Artista da Paz pela agência da ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Gil lançou mais de 50 álbuns que mesclam influências do rock, de gêneros tipicamente brasileiros, de música africana, funk, música disco e reggae.

Seu interesse pela música surgiu quando ainda garoto, aos 3 anos de idade. Com 9 anos, ao mesmo tempo que cursava o ginasial, em Salvador, estudava música na Academia Regina. Seu instrumento preferido era o acordeão, mas aprendeu também a tocar violão. Em 1960, Gilberto Gil ingressou na Universidade Federal da Bahia para cursar administração de empresas. No ano seguinte, ganhou um violão de presente de sua mãe. Aos 18 anos, integrou o conjunto Os Desafinados, onde praticava o que aprendia na academia de música. Em 1963, compôs sua primeira música Felicidade Vem Depois, um samba no estilo bossa-nova, que nunca foi gravado.

Tropicália

Gil foi um dos criadores do Movimento Tropicalista nos anos de 1960, ao lado de Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa e Tom Zé, e é autor de músicas consagradas como ProcissãoDomingo no Parque e Aquele Abraço. Com Domingo no Parque, que ele cantou com os Mutantes, no 3º Festival da Música Popular Brasileira, em 1967, obteve o segundo lugar. O festival foi o ponto de partida para o Tropicalismo.

O Movimento Tropicalista, entretanto, foi considerado subversivo pela ditadura militar e Gilberto Gil foi preso, junto com Caetano Veloso. Em 1969, Gil se exilou na Inglaterra. Nesse mesmo ano, lançou o disco Gilberto Gil, com a música Aquele Abraço, última música que gravou no Brasil, um dia antes de partir para a Europa. Aquele Abraço acabou se tornando o maior sucesso do compositor e agora imortal da ABL.

No início de 1972, Gilberto Gil voltou do exílio e, em 1976, junto com Caetano, Gal e Bethânia, formou o conjunto Doces Bárbaros, que rendeu um álbum e turnês pelo país. Em 1978, se apresentou no Festival de Montreux, na Suíça. Nesse mesmo ano, ganhou o Grammy de Melhor Álbum de World Music com “Quanta Gente Veio Ver”.

Livros

Pai de oito filhos, Gil tem quatro obras literárias assinadas: O poético e o político e outros escritos, de 1988, com Antonio Risério; Gilberto bem perto, de 2013, com Regina Zappa; Cultura pela Palavra, de 2013, com Juca Ferreira; e Disposições amoráveis, de 2016, com Ana de Oliveira.

Agraciado com várias comendas nacionais e internacionais ao longo de sua carreira musical e política, e detentor de vários prêmios no Brasil e no exterior, Gilberto Gil foi ganhador em 2015 e 2016 do 26º e 27º Prêmios da Música Brasileira. No primeiro, ganhou na categoria Melhor DVD Especial, com o DVD Gilberto Sambas ao Vivo e, no ano seguinte, na categoria Melhor Álbum de MPB, com o CD Dois Amigos, um Século de Música, feito em parceria com Caetano Veloso. O cantor, compositor e ex-ministro é casado com Flora Giordano Gil, neta de italianos, o que lhe permitiu obter, em 2009, a cidadania italiana.

Com informações da Agência Brasil

AUTOR
Compartilhar:

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*