Teatro Municipal de São Paulo Sem Sem verba

 
“Candide”, de Bernstein, “Os Pescadores de Pérolas”, de Bizet, e um terceiro título a ser anunciado devem ser as óperas encenadas no Municipal em 2005, primeiro ano da gestão do novo diretor artístico, o maestro Jamil Maluf.

“O orçamento do Municipal está reduzidíssimo. Não chega a R$ 2 milhões no ano inteiro”, diz. “Vou fazer tantas óperas quantas eu puder pagar. A palavra de ordem no Municipal é parceria.”

Assim, “Candide”, baseado na obra homônima de Voltaire, depende de negociações com o Municipal do Rio, de onde deve vir a produção. Já “Pescadores” será a remontagem de um título que foi regido pelo próprio Maluf no Municipal de São Paulo, em 1995.

O nome de Maluf, 54, foi anunciado na última sexta-feira pelo secretário municipal de Cultura, Emanoel Araújo. O regente trabalha na casa desde 1980, quando começou a reger a Orquestra Sinfônica Jovem Municipal, dez anos mais tarde convertida em Orquestra Experimental de Repertório (OER). Sua estréia operística foi em 1983, com “A Flauta Mágica” –incrivelmente a primeira vez em que a criação de Mozart foi encenada no Municipal.

Ele responde pela direção artística da casa, ficando a direção administrativa com Jussara Rodrigues, que Maluf define como “uma funcionária altamente categorizada na prefeitura, e especialista em administração pública”. “Eu não delibero mais sobre contratos. Delibero sobre programação. Eu levo a programação para a diretora administrativa e discuto a viabilidade financeira, os encaminhamentos burocráticos, mas quem faz o encaminhamento é a direção administrativa”, explica.

A casa ganha ainda um Departamento de Recursos Humanos, e sua antiga Coordenadoria de Corpos Estáveis é extinta, sendo substituída por quatro novas: música, dança, projetos especiais e produção. Maluf diz não estar inchando a estrutura: “Não está sendo chamada nem contratada nenhuma pessoa a mais”.

“Eu sou partidário da idéia de que o Teatro Municipal se transforme em uma verdadeira casa de ópera, ou seja, ele tem que se equipar para ser uma casa de ópera. Ele tem os equipamentos artísticos –coro, orquestra, balé–, mas não tem uma central de produção. Com isso, as óperas do Municipal acabam custando verdadeiras fortunas, de R$ 1 milhão para mais. E não tem um sistema eficiente de captação de recursos para suportar essas atividades. Não há maneira de o poder público financiar isso sozinho”, diz.

“Acho que a cidade de São Paulo, em três ou quatro anos, sem ser otimista demais, pode chegar a seis títulos anuais”, prevê. “Mas, para isso, a gente tem que construir uma estrutura que suporte isso aí. No ano passado, nós fizemos cinco óperas, e três ainda não foram inteiramente pagas.”

Maluf deve acumular a direção artística do Municipal com a direção da OER. A OSM, até agora comandada pelo maestro americano Ira Levin, apresenta-se sob a batuta de convidados até a escolha do novo titular, que, segundo Maluf, pode até ser o próprio Levin: “Sempre me relacionei muito bem com ele, nunca tive nenhum problema. Só que, para ele ser titular da orquestra, é necessária uma conjunção de fatores novos. Quando você termina uma administração, todos os diretores artísticos têm que colocar seus cargos à disposição e aguardar”.

Contudo, a programação pensada por Levin para 2005 será descartada. “Eu não vou conservar basicamente nada do que havia sido previsto pela gestão passada, porque o foco da programação sinfônica, agora, é a música brasileira. Vou começar em março uma programação exclusiva com os corpos estáveis, sem solistas.”

A temporada, para valer, começa em abril, retomando a tradição dos concertos matinais aos domingos. Os concertos estarão divididos em três séries: “Sinfonia Brasileira”, mostrando a evolução da sinfonia no país; “Solando pelo Brasil”, trazendo obras concertantes de brasileiros; e “Todos os Cantos”, com um painel internacional da música vocal-sinfônica.

“Vou fazer convites a uma série de talentos brasileiros da regência para se revezarem na temporada da OSM e também vou convidar o maestro Ira Levin para ser o principal regente convidado da orquestra”, diz. “O processo de escolha do regente titular, para ser legítimo, tem que ser transparente. E, para ser transparente, tem que envolver todas as partes.”

 

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