O Brasil na II Guerra Mundial – 60 Anos!

 

O Brasil na II Guerra Mundial

Desde o início da Segunda Guerra Mundial, a ideologia do Estado Novo, implantado por Getúlio Vargas, apontava para um provável alinhamento do Brasil com os países do Pacto de Aço – Alemanha e Itália. Em 1937 Vargas havia instalado no País uma ditadura, apoiada em uma Constituição centralizadora e autoritária, que guardava muitos pontos em comum com as ditaduras fascista. A própria declaração de Vargas ao comentar a invasão da Polônia pelo exército nazista, em 1° de setembro de 1939, revelava certa simpatia pelo nazismo ao prever um futuro melhor: “Marchamos para um futuro diverso de tudo quanto conhecemos em matéria de organização econômica, política e social. Passou a época dos liberalismos imprevidentes, das demagogias estéreis, dos personalismos inúteis e semeadores da
desordem”.
Repressão: esta era a ordem política no Brasil na época da Segunda Guerra. O
Estado Novo, decretado em 10 de novembro de 1937, fechou o Congresso, impôs a censura à imprensa, prendeu líderes políticos e sindicais e colocou interventores nos governo estaduais. Com um estilo populista, Getúlio Vargas montou um poderoso esquema de propaganda pessoal ao criar o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), claramente inspirado no aparelho nazista de propaganda idealizado por Joseph Goebbels. A Hora do Brasil, introduzida nas rádios brasileiras e chamada ironicamente pela intelectualidade de “Fala Sozinho”, mostrava os feitos do governo, escondendo a repressão política praticada contra uma sociedade pouco organizada na época. Vargas criou o salário mínimo e instituiu a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), entre outros benefícios sociais, o que o levou a ser adamado como “pai dos pobres” pela população de baixa renda.

Em 1940, um ano após edodir na Europa, a guerra ainda não ameaçava diretamente o Brasil. A ideologia nazista, contudo, fascinava os homens que operavam o Estado Novo a tal ponto que Francisco Campos, o autor da Constituição de 1937, chegou a propor à embaixada alemã no Brasil a realização de uma “exposição anticomintern”, com a qual pretendia demonstrar a falência do modelo político comunista. Mais tarde, o chefe da polícia (um órgão de atuação similar à da Polícia Federal de hoje), Filinto Muller, enviou policiais brasileiros para um “estágio” na Gestapo. Góes Monteiro, o chefe do Estado Maior do Exército, foi mais longe. Participou de manobras do exército alemão e ameaçou romper com a Inglaterra quando os britânicos apreenderam o navio Siqueira Campos, que trazia ao Brasil armas compradas dos alemães.
Existem divergentes interpretações sobre a postura de Vargas frente a eclosão da II Guerra. A visão tradicional, considera o presidente como um político habilidoso, que protelou o quanto pôde a formalização de uma posição diante do conflito, na medida em que poderia obter ganhos, do ponto de vista econômico, dos dois lados. O grande sonho do presidente era a industrialização do Brasil e, nesse sentido, pretendia obter recursos externos. Em 1940 o ministro Souza Costa publicou um Plano Quinquenal, que previa o reequipamento das ferrovias, a construção da Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso, a instalação de uma indústria aeronáutica e a construção da Usina Siderúrgica de Volta Redonda, reforçando o nacionalismo econômico.
Outra visão considera a posição de Vargas frente a Guerra como expressão de uma contradição, na medida em que o país dependia de forma mais acentuada da economia norte-americana e ao mesmo tempo possui uma estrutura política semelhante à dos países do Eixo. A posição favorável a Alemanha poderia comprometer o desenvolvimento econômico do país, uma vez que os nazistas, apesar de avançarem na Europa, tinham na América do Sul um interesse secundário. Ao contrário, a defesa dos interesses dos EUA, quer dizer, das “democracias” contra o nazi-fascismo, poderia comprometer a política interna de Vargas.
No entanto, as pressões norte-americanas foram intensas, contaram com o apoio de outros países latino-americanos e utilizou-se de diversos mecanismos, desde aquele que foi considerado o mais eficiente – a liberação de recursos para a construção da Usina de Volta Redonda – até um novo modelo de relação, batizado de “política de boa vizinhaça”, pelo presidente F. Roosevelt dos EUA. Intelectuais brasileiros visitaram os EUA, e mesmo o general Góis Monteiro – germanófilo – ficou encantado em conhecer os estúdios Disney.

Veja a opinião do tradicional historiador Hélio Silva:

A América estava dividida e as posições pareciam irredutíveis. “E quando o chanceler brasileiro [Oswaldo Aranha] se agiganta à estatura dos grandes estadistas do século. Ele consegue salvar a partida perdida, dando ganho aparentemente ao adversário. Com uma lucidez absoluta, sente que a fórmula inicial não poderia mais ser atingida com unanimidade. As pressões dos países do Eixo – que conhecia e repelira – atuavam na Conferência. Mas, importante que era a ruptura imediata, (…) não era o princípio em causa, o principal. Este era a unidade continental, a solidariedade entre as nações americanas, a reação unânime à agressão. Porque, firmado esse princípio, tudo o mais seria atraído por ele. Oswaldo Aranha é a grande figura da III Reunião de Consulta. Sem ele, teria perecido, naquela ocasião, a unidade continental. (…) A Europa ocupada, a Inglaterra subjugada, a Rússia invadida, não .precisariam os Exércitos nazistas atravessar os oceanos. As quintas-colunas se aprestariam em tomar conta dos govemos americanos. A Nova Ordem nazista teria, afinal, triunfado no mundo. (…) A Conferência do Rio de Janeiro teve uma importância decisiva nos destinos da humanidade. Pela primeira vez, em face de um caso concreto, positivo e definido, foi posta à prova a estrutura do pan-americanismo. Pela primeira vez todo um continente se dedarou unido para uma ação comum, em defesa de um ideal comum, a Liberdade”.

Em 22 de agosto de 1942, Vargas reúne-se com seu novo ministério: ” diante da comprovação de dos atos de guerra contra a nossa soberania, foi reconhecida a situação de beligerância entre o Brasil e as nações agressoras – Alemanha e Itália”. Em 31 de agosto foi declarado o estado de guerra em todo o território nacional.

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