Centenário da Independência e o início da Rádio Sociedade

 

 

Um grande evento foi realizado em 1922 para comemoração do centenário da independência brasileira. Na exposição havia representantes de diversas partes do mundo, figuras ilustres e o presidente Epitácio Pessoa. Na época, duas estações de pequena potência foram montadas A SPC (Rádio Corcovado) e Western Eletric (Estação da Praia Vermelha). Junto com as emissoras vieram 80aparelhos receptores que foram distribuídos nas praças públicas de Petrópolis, Niterói e São Paulo.

 

Durante a exposição, altos falantes irradiavam os discursos e tocavam músicas. Porém a união da má qualidade do equipamento que reproduziam sons distorcidos – que mais incomodavam o ouvido do que qualquer outra coisa -, aliado ao ruído provocado pela multidão que ali estava, provocou um desinteresse por esse experimento. Apenas poucos curiosos, entre eles Roquette Pinto, puderam perceber a potencialidade da radiodifusão.

 

Abaixo, o relato que Roquette Pinto escreveu na época:

 

 

“A verdade é que durante as solenidades comemorativas de 1922, muito pouca gente se interessou pelas demonstrações então realizadas pelas companhias Westinghouse (Estação do Corcovado) e Western Eletric (Estação da Praia Vermelha). Creio que a causa principal desse desinteresse foram os alto-falantes instalados nas torres do Serviço de Meteorologia (Pavilhão dos Estados). Eram discursos e músicas reproduzidos no meio de um barulho infernal, tudo roufenho, distorcido, arranhando os ouvidos. Era uma curiosidade sem maiores conseqüências. No começo de 1923, desmontava-se a estação do Corcovado e a da Praia Vermelha ia seguir o mesmo destino se a Governo não a comprasse. O Brasil ficaria sem rádio. Eu vivia angustiado porque já tinha a convicção profunda do valor informativo e cultural do sistema, desde que ouvira as transmissões que foram dirigidas na época pelos engenheiros J.C. Stroebel, J. Jonotskoff e Mario Liberalli. Uma andorinha só não faz verão; por isso resolvi interessar no problema a Academia de Ciências, presidida pelo nosso querido mestre Henrique Morize. E foi assim que nasceu a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a 20 de abril de 1923.”

 

Com o encerramento da exposição, o transmissor do Corcovado foi desmontado e enviado para os Estados Unidos. O mesmo fim teria o equipamento da Praia Vermelha se o Governo não tivesse comprado para utilizá-lo no serviço de radiotelegrafia.

 

Compreendendo a potencialidade deste invento, Roquette procurou Henrique Morize, então presidente da Academia de Ciências, para falar sobre suas idéias de montar uma estrutura que permitisse levar à população educação e cultura.

 

Um movimento começou para implantar o Rádio no Brasil. Na época o cidadão comum não podia ter um aparelho em casa, precisando de um atestado de idoneidade e autorização do governo. No ano de 1923 o poeta Amadeu Amaral, jornalista da “Gazeta de Notícias”, publicava colunas em favor do rádio. Em 14 de abril, o próprio Roquette publicou o que considerava o primeiro grito pelo rádio brasileiro: “Até agora esperei em vão que alguém mais autorizado quisesse fazer pela imprensa, o trabalho de vulgarização da radiotelefonia que o momento nacional está exigindo. A falta dos que sabem muito do assunto, aqui estou eu, que quase nada sei, para auxiliar os nossos amadores incipientes. Estou convencido de que prestaremos todos um grande serviço ao Brasil” .

 

Dito e feito. No dia 20 de abril de 1923 surgiu a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada por Edgar Roquette Pinto e Henrique Morize, com o prefixo PRA-2.

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