Arena Contra Danton – Teatro

 

 

 

Divulgação ‘Arena   conta Danton’ na montagem da diretora paulista Cibele Forjaz

‘Arena conta Danton’ na montagem da diretora paulista Cibele Forjaz

CURITIBA – Os assentos dos espectadores que foram assistir à peça Arena conta Danton, segunda-feira à noite, no Festival de Teatro de Curitiba, estavam marcados com bonequinhos vermelhos de papel. A encenação começa com todos sendo instruídos a pegar seu bonequinho e ali escrever o nome de algo que deseja matar, de pessoas a sentimentos. Os atores da Cia. Livre recolhem os papéis e começam a ler o que cada um escreveu. E é o público que escolhe, com gritos de mata ou não mata, se a “vítima” em questão deve ser liquidada, com tesouras ou uma guilhotina de papel. Logo de início, a proposta da diretora paulista Cibele Forjaz e de seu teatro de cunho político fica clara: fazer um espetáculo-jogo, com interatividade, para falar de revolução.

A montagem, que se despediu ontem de Curitiba, é uma adaptação feita por Fernando Bonassi de A morte de Danton, peça escrita em 1835 pelo dramaturgo alemão Georg Büchner (1813-1837) sobre os últimos dias da vida do revolucionário Geroges-Jacques Danton e do processo político que o levou à guilhotina. A peça se passa durante o Revolução Francesa (1789), no período conhecido como “terror”, comandado por Robespierre. Não é a primeira vez que Cibele mergulha em uma obra de Büchner. Em 2002, ela montou no Rio de Janeiro Woyzeck, o brasileiro, com Matheus Nachtergaele, a partir de uma peça inacabada do autor, cujas cenas não têm uma ordem definida.

– Muita gente me pergunta por que a vontade de montar esse alemão romântico. Mas ele, que pegou a ressaca da ressaca da Revolução Francesa, tem muito a falar para a nossa geração, que pegou a ressaca de 68 e da queda do Muro de Berlim. Ele era um homem que acreditava na transformação mas, ao mesmo tempo, era desencantado com o mundo – avalia Cibele.

A peça faz parte do projeto Arena Conta Arena 50 anos, que celebrou, no ano passado, o cinqüentenário do lendário teatro paulista, o Arena. Vencedor, em São Paulo, dos prêmios Shell e APCA (cuja cerimônia acontece dia 29 de março) em categorias especiais, o projeto incluiu uma série de palestras e leituras dramatizadas que serão compiladas em um CD-Rom, com previsão de lançamento este ano. Em Arena Conta Danton, a homenagem ao Teatro de Arena não ficou só no título da peça – que remete às montagens Arena conta Zumbi e Arena conta Tiradentes, que marcaram a história do teatro paulista nos anos 60 –, mas também ao sistema Coringa formulado por Augusto Boal e reaproveitado pelo grupo.

Nas montagens de Boal, existia um personagem coringa que tinha o poder de mudar de papel ao longo do espetáculo. Na obra de Cibele, o ator-coringa não deixa sua função de mestre-de-cerimônias, mas os outros seis atores podem interpretar, cada um, dois personagens. A escolha é determinada por uma roleta, que indica se o ator vai “jogar” no time preto (o de Danton) ou no branco (o de Robespierre).

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