Paço das Artes – SP.

O Paço das Artes – instituição da Secretaria de Estado da Cultura – inaugura no dia 10 de abril, às 19h, a primeira edição da Temporada de Projetos 2015 – curadoria.  O projeto Cruzeiro do Sul, de Gabriel Bogossian, foi selecionado pelo júri, formado por Cauê Alves, Daniela Kutschat, Mario Gioia, Rejane Cintrão e Priscila Arantes (diretora técnica e curadora do Paço das Artes).

Composta por obras dos artistas Armando Queiroz, Dora Longo Bahia, Claudia Andujar, Coletivo Macunaíma Colorau, Jorge Bodanzky e Orlando Senna, Leonardo Sette, Rodrigo Bueno, registros em vídeo do Museu do Índio e texto da revista Realidade, a mostra é uma reflexão sobre a presença indígena na arte brasileira.

“Cruzeiro do Sul aborda a história dos contatos entre os povos indígenas e o Outro, personagem vivido por representantes diversos da sociedade brasileira. O título do projeto faz referência a uma obra de Cildo Meireles, que consiste em um pequeno cubo de 9x9x9mm feito de pinho e carvalho, madeiras que produziriam fogo segundo a cosmologia Tupi”, diz Bogossian.

O curador chama atenção, ainda, para alguns paralelismos que permanecem pouco considerados na historiografia nacional e no debate artístico, como o processo da criação do Parque Nacional do Xingu, a primeira terra indígena homologada pelo governo brasileiro, e a construção do projeto modernizador de Brasília, ocorrida um ano antes. “A contemporaneidade desses dois símbolos indica um vínculo insuspeito entre eles; são negativo e positivo, parte de um mesmo processo – ocupação territorial do Centro-Oeste, transformação espacial e identitária, elaboração de um projeto nacional de modernização e industrialização”, diz Bogossian. “A presença indígena foi recalcada em prol de uma suposta modernização do Brasil, e que não sabemos sequer a que custo se deu esse recalque”, completa.
Temporada de Projetos
A vocação experimental do Paço das Artes é constatada principalmente através da Temporada de Projetos que foi criada com o objetivo de abrir espaço à produção, fomento e difusão da prática artística jovem. Concebida em 1996, a Temporada de Projetos teve sua primeira exposição realizada em 1997 e se tornou, ao longo dos anos, um rico celeiro para a cena da jovem arte contemporânea brasileira.

Anualmente, a Temporada abre uma convocatória nacional selecionando nove projetos artísticos e um projeto de curadoria para serem desenvolvidos e produzidos com o respaldo do Paço das Artes. Os selecionados recebem acompanhamento crítico, a publicação de um catálogo sobre suas obras e um cachê de exibição. Desde seu surgimento, quando ainda era bienal (tornando-se anual em 2009), o programa possibilitou a emergência de inúmeros artistas, curadores e críticos, muitos deles presentes na cena artística atual.

Em novembro de 2014, foi lançado o MaPa: Memória Paço das Artes, plataforma digital de arte contemporânea, que reúne todos os artistas, críticos, curadores e membros do júri que passaram pela Temporada de Projetos desde sua criação. A idealização do projeto é de Priscila Arantes.
ARTISTAS E OBRAS

Armando Queiroz
Pilatos | vídeo, 3’30” (2010)
O vídeo é uma leitura simples e potente do gesto de Pôncio Pilatos: em uma bacia branca, um homem lava as mãos com sangue.

Ouro de tolo (arcadas) | objetos, dimensões variáveis (2009-2010)
16 moldes de arcadas dentárias fundidas em metal exibidos lado a lado mostram bocas desdentadas. Os moldes são das arcadas dentárias de garimpeiros que trabalharam em Serra Pelada.

Dora Longo Bahia (São Paulo, 1961)
Tristes trópicos | vídeo, 2’21” (s/d)
Neste vídeo – referência direta a Tristes Tropiques, de Lévi-Strauss – o plano fixo de uma paisagem tropical sofre interferência de um áudio industrial. As variações do som – indicando ora destruição ora um riso ofegante – controlam as mudanças de luz da imagem fixa.

Who’s affraid of red? | impressão em cibachrome e caixa de luz em madeira laqueada, 130x190x15 cm (2002). O backlight mostra a fotografia de uma paisagem tropical em vermelho, com a luz estourada. No centro se vê a silhueta de uma figura. A luz e as cores da fotografia a transformam em uma imagem incandescente.

Claudia Andujar
Sem titulo (da série Sonhos Yanomami, 1974-2003) | sobreposição de cromo e impressão em papel fotográfico, 100 x 100 cm (1981).

Guerreiro de Toototobi (da série Sonhos Yanomami, 1974-2003) | sobreposição de cromo e impressão em papel fotográfico,100 x 100 cm (1976).

Parte do enorme trabalho desenvolvido por Claudia Andujar junto aos Yanomami, as fotografias são um registro onírico da dança e do espaço desses índios.

Coletivo Macunaíma Colorau
Você é Macunaíma Colorau? | vídeo, duração variável (2009) – realizadores: Angelo Bueno, Clarice Hoffmann, Çarunga, Guma Farias, Lourival Cuquinha, Renato Pimentel, Thelmo Cristovam e Zui Ferreira

Parte do projeto Macunaíma Colorau, desenvolvido pelo coletivo de mesmo nome em Pernambuco, o videopesquisa Você é Macunaíma Colorau? mostra centenas de indivíduos que são provocados a se autodefinir do ponto de vista “colorau”: étnico, racial, cultural, epidérmico, etc.

Jorge Bodanzky e Orlando Senna
Iracema, uma transa amazônica | vídeo, 91’ (1976)

Em uma mescla de ficção e documentário, Iracema narra a história de um caminhoneiro e uma prostituta que viajam juntos pela Transamazônica. Ele defende sua fé no Brasil Grande, enquanto ela vaga sem destino, acompanhando outros caminhoneiros pelas estradas.

Leonardo Sette
Confessionário | vídeo, 15’ (2009)

Neste documentário de curta-metragem o padre italiano Silvano Sabatini conta sua chegada como missionário católico na área indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, nos anos 50. O documentário é composto por um plano fixo, sem cortes, e é finalizado por uma interrupção técnica: o momento em que é preciso trocar afita.

Rodrigo Bueno
Estado laico | Dípticos 2, 3 e 5 (2014)

O livro Brazil: Portrait of a great country, editado pela Colibiris em 1959, foi devorado por traças e cupins na biblioteca do ateliê do artista durante mais de um ano. A série Estado Laico é composta por 6 dípticos com algumas dessas páginas, que alternam fotos de Brasília em construção e de indígenas brasileiros.

1ª Temporada de Projetos 2015 – Curadoria selecionada
Cruzeiro do Sul – Gabriel Bogossian
Abertura: 10 de abril >> sexta-feira >> 19h
Visitação: até 5 de julho de 2015
*** Na ocasião, será inaugurada também a exposição “A queda do céu”, com curadoria de Moacir dos Anjos

Paço das Artes
Avenida da Universidade, 1, Cidade Universitária, São Paulo/SP; tel.: (11) 3814-4832
Horários: Quartas a sextas-feiras >> 10h às 19h; sábado e domingo>> 11h às 18h

 

Compartilhar:

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*