*Artigo de Walter Sorrentino.

walter sorrentinoMonteiro Lobato e as idéias fora do lugar*  Há muitas coisas em comum entre o “politicamente correto” e a campanha recém-finda. Julga-se “politicamente correto” censurar o uso da literatura de Monteiro Lobato na educação infantil. Isso é simplesmente abstruso. Anos atrás – não dispus de tempo para uma pesquisa em mecanismos de busca, mas é certo – um órgão da imprensa paulista fez uma enquete entre pessoas das mais influentes do mundo econômico, político, social e cultural e a constatação foi certeira. Monteiro Lobato foi isoladamente o escritor brasileiro que mais influenciou a formação do imaginário deles sobre o Brasil. No meu caso pessoal, absolutamente central: aprendi a amar a leitura com Monteiro Lobato, desde os 9 anos. Fosse apenas por isso, ele já seria marcante. Com sua obra que foi uma “fortuna da crítica” e editada aos milhões – num tempo em que não havia best Sellers – isso parece magnífico.

MonteiroLobato wsCensurar o uso da obra na educação, como obra literária, é desconhecer todo o patrimônio cívico e patriótico que Monteiro Lobato representou, embora marcado pelo tempo. Mas deixou um legado poderoso, como indica a enquete. Por que seria diferente daqui para diante? Por que amputar esse lado do imaginário popular e literário do país?

A resposta parece ser a de que é “politicamente incorreto”. A obra poderia ser motivo, ao contrário, de uma superação (negação da negação) dos pretensos “desvios étnicos”, à medida que fossem contextualizados e estimulassem a reflexão dos leitores educandos.

“Politicamente correto” nasceu como reação de natureza progressista mas foi seqüestrado pela atitude de demarcação, exprimindo preconceitos ao inverso dos que pretende combater. Esse significado não é neutro. Leva, frequentemente, à intolerância.

Sob essa capa não raro se manifestam posições intolerantes. O alvo não é mais direitos civis, mais respeito aos direitos humanos, mas certa estigmatização do que é popular, supostamente “atrasado”. Enfim, leva não raro a um cosmopolitismo desligado do sentido nacional e popular. Daí o elo de ligação que referi com a campanha eleitoral. Uma determinada parcela da elite, particularmente a paulista, moveu uma campanha odienta e reacionária para tentar desconstruir a imagem de Dilma Rousseff. Foi vergonhosa a campanha,  cujo alvo foi o pretenso atraso de nordestinos (o povo) e de quem recebe bolsa-família. Até o governador Goldman fez essa leitura.

São muitos dos setores que propagam campanhas de “politicamente correto”, com uma moral hipócrita.

O Brasil não é negro nem branco; não se divide em etnias; reparação não é para dividir o povo. Assumamos nossa mestiçagem, saibamos nos apropriar de tudo que pretendeu interpretar a índole de nosso povo. A obra de Monteiro Lobato é destacada por isso. A elite tradicional não interpreta a nação, porque não alcança compreender que o nacional é popular, ou não é efetivamente nacional.

“Politicamente correto” é mais uma idéia fora do lugar para a realidade brasileira. O Ministério da Educação precisa derrubar a indicação de Monteiro Lobato como fator de educação de nossas crianças.

*Artigo de Walter Sorrentino.

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