Origem da comida exótica – Pato no Tucupi. Conta-nos uma lenda – chamada da primeira água – que Jacy (Lua) e Iassytatassú (Estrela d’Alva), combinaram um dia visitar Ibiapité (Centro da Terra).
Em uma madrugada deixaram Ibacapuranga (Céu Bonito) e desceram para a terra. Descansaram no enorme disco da Iupê-jaçanã (Vitória-Régia) e se puseram a caminho para o centro da terra. Quando as duas se preparavam para descer o Ibibira (abismo), Caninana Tyba mordeu a alva face de Jacy que, sentindo a dor, derramou copiosas lágrimas amargas sobre uma extensa plantação de mandioca.
Depois disso, a face de Jacy nunca mais foi a mesma pois as mordidas da caninana, marcaram-na para sempre.
Das lágrimas de Jacy surgiu o tycupy (tucupi).
O tucupi é ácido cianidrico.
Todavia, as nossas avoengas descobriram que poderiam vencer esse veneno deixando-o exposto ao sol por três ou quatro dias ou, então, depois de “descansado” (tempo em que a tapioca sedimenta-se no fundo do vasilhame), é fervido, ficando o tucupi pronto para o consumo humano.
Dessa massa (a tapioca) e da pimenta murupi surgiu a primeira iguaria exótica, nascida da sapiência das nossas avós amerabas.
Os autóctones desconheciam o sal. E o arubé, apesar de ardente, era o que dava um gosto às comidas ensossas, além do que a sua causticidade as tornava mais saborosas.
De exotismo em exotismo, surgiu a tiquara, que chegou até nós como o nome de chibé.
A tiquara, ou chibé, nada mais é que a farinha de mandioca, com a água fresca dos igarapés, bebida em uma cuia pitinga.
Houve na história do Pará um instante onde o humílimo chibé foi reconhecido como alimento.
Ia acesa a Revolução Paraense, infamantemente conhecida por Cabanagem. As tropas legais reclamavam por alimentos.
O marechal Manuel Jorge, irado com os protestos, perguntou aos reclamantes:
– E os sediciosos o que é que comem?
Os perguntados responderam:
– Chibé!…
– Então, comam-no também, respondeu o marechal mal humorado.
OS ÍNDIOS FOGEM
Quando da descoberta do Brasil viviam na faixa larga da mata atlântica vinte e cinco milhões de ameríndios. A matança foi impiedosa e os autóctones tornaram-se nômades. Guiacurú, Temimino, Carijó, Aymoré, Tamoio puseram-se a andar, perseguidos implacavelmente pelo civilizado.
Aí as nossas avoengas mostraram para o que vieram. Responsáveis pela manutenção dos alimentos para os seus filhos, traziam em grandes cabaças o tucupi, o jambu, a carne de caça moqueada ou peixe, prática que elas haviam descoberto muito antes.
Era deliciosa a carne de anta moqueada com o tucupi ou então a folha da maniva, mascada pelas mulheres da taba em tempos de paz. Mascavam-na à beira de um igarapé corrente, para que a água lavasse a maniva desse modo triturada.
Se a carne moqueada no tucupi conservava-se por oito dias, a maniva cozida com carne de caça durava quinze dias.
Esse uso e costume deu origem a dois pratos exóticos da Amazônia – o pato no tucupi e a maniçoba – e ainda uma outra bebida, agora já com requintes de sabedoria das mulheres amazônidas, o tacacá.
Os últimos bolsões dos amerindios foi o Sul da Bahia e eles encetaram a grande marcha para o vale amazônico na metade do Século XVI. Nessa caminhada foram distribando-se. Belém ainda não havia sido fundada.
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Ingredientes:
4 a 5 Kg de pato ou dois patos médios
Vinha-d’alhos: suco de cinco limões, cinco cabeças de alho socadas, meio litro de vinagre branco, uma pimenta-de-cheiro, sal a gosto
5 litros de tucupi
3 pimentas-de-cheiro
5 cabeças de alho
6 maços de folhas de jambu
Temperos: alfavaca, chicória do Norte e sal a gostoPara o molho de pimenta
17 pimentas-de-cheiro
1 dente de alho
Um pouco de tucupi fervente
Sal a gostoAcompanhamento
Arroz branco
Farinha-d’água de mandioca -
Preparo:
Lave os patos em água corrente. Em um recipiente, prepare a vinha-d’alhos, misturando os ingredientes. Junte os patos e deixe-os descansar nos temperos, em geladeira, de um dia para o outro.
Asse os patos em forno médio, regando-os com o líquido da vinha-d’alhos, à medida que forem tomando cor.
Retire-os e, após esfriarem, corte-os em pedaços.
Se preferir, desosse-os e retire a pele.
Em uma panela, ferva o tucupi junto com as pimentas-de-cheiro, as cabeças de alho, a alfavaca, a chicória e o sal.
Retire três litros de tucupi e reserve. Nos dois litros restantes, coloque os pedaços de pato e ferva-os, até ficarem bem macios.
Separe folhas de jambu com os talos mais tenros e lave-as em água corrente.
Escalde-as em água fervente com sal, escorra-as e reserve-as.Preparo do molho de pimenta
Amasse as pimentas-de-cheiro com sal, o dente de alho socado e um pouco de tucupi fervente, para formar um molho.
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Montagem
Em um alguidar de barro, disponha os pedaços de pato e o jambu. Cubra com o tucupi restante, que não foi usado para amaciar os patos. Sirva com molho de pimenta e acompanhe com arroz branco e farinha-d’água de mandioca.
Rendimento: 6 pessoas
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