Desejo de Salão (ou carecemos de Salão)?!

O nome da exposição é DESEJO: quem que não caressesse de nada não desejaria nada. Percebendo o erro histórico e, provavelmente, devido ao encurtamento de verbas, cometido pela atual gestão, a Secretaria de Estado da Cultura do Paraná, de última hora, “inventou” uma “Exposição” que resgata, com documentos, quadros e raridades, a história do Salão Paranaense desde a sua primeira edição, em 1944. Este ano, pela primeira vez, não haverá o importante Salão.

Com o novo governo, no inicio deste ano, imaginava-se que finalmente a verba da Lei Rouanet, que vinha sendo utilizada exclusivamente para manutenção e realização de exposições do MON, finalmente poderá ser dividida entre outros projetos culturais como, por exemplo, para a reforma dos demais museus, como a Casa Andrade Muricy, o Museu de Arte Contemporânea e o Museu Alfredo Andersen, que ficaram a míngua na gestão passada. Ledo engano.

O Salão Paranaense, que é um evento tradicional de Curitiba instituído oficialmente em 1944, promovido pelo MAC/PR desde a década de 1970, e a partir daí suas premiações passam a integrar o acervo permanente do museu. A história do Salão Paranaense é reveladora dos caminhos trilhados pela arte moderna e contemporânea no Estado, e nela se insere o projeto de criação do MAC/PR. Inteiramente dominado até meados da década de 1950 pelos alunos de Alfred Andersen (1860 – 1935) – João Ghelfi (1890 – 1925), Lange de Morretes (1892 – 1954), Theodoro de Bona (1904 – 1990), Estanislau Traple (1898 – 1958), entre outros -, o Salão define o gosto e o debate local pela defesa de uma arte realista convencional, que passa ao largo dos debates sobre arte moderna levados a cabo no Rio de Janeiro e em São Paulo.

O Salão de 1957 é considerado um marco na história das mostras e da arte moderna em Curitiba. Alvo de críticas e contestação pelas novas gerações, o evento assiste à retirada de parte das obras expostas pelos artistas comprometidos com as vanguardas abstratas, que as levam para serem exibidas em exposição paralela. O episódio, de grande repercussão na imprensa, ficou conhecido como o “Salão dos pré-julgados”. A partir desse momento, o perfil do Salão Paranaense se altera, o que pode ser observado pelas mostras realizadas na década de 1960, cada vez mais abertas à arte abstrata, às novas experimentações e linguagens.

Representam papel decisivo na renovação artística da cidade a revista Joaquim (1946-1948), o ateliê da artista Violeta Franco (1931), o Centro de Gravura do Paraná, 1951, e a galeria Cocaco, 1957, todos eles espaços de encontro, debates e reflexões sobre os caminhos da arte moderna e contemporânea. Fernando Velloso, Juarez Machado, Domício Pedroso (1930), Euro Brandão (1924 – 2000) e outros, assistidos de perto por Guido Viaro (1897 – 1971) e Paul Garfunkel (1900 – 1981), também se destacam na renovação da cena artística curitibana.

De forma precisa, foi escolido com nome para esta exposição a palavra “DESEJO”. pode não ser uma coincidência. Em filosofia, o desejo é uma tensão em direção a um fim considerado pela pessoa que deseja como uma fonte de satisfação. É uma tendência algumas vezes consciente, outras vezes inconsciente ou reprimida. Quando consciente, o desejo é uma atitude mental que acompanha a representação do fim esperado, o qual é o conteúdo mental relativo à mesma. Enquanto elemento apetitivo, o desejo se distingue da necessidade fisiológica ou psicológica que o acompanha por ser o elemento afetivo do respectivo estado fisiológico ou psicológico.

Tradicionalmente, o desejo pressupõe carência, indigência. Um ser que não caressesse de nada não desejaria nada, seria um ser perfeito, um deus. Por isso Platão e os filósofos cristãos tomam o desejo como uma característica de seres finitos e imperfeitos.

A Exposição, que reúne cerca de 200 obras de artistas paranaenses e brasileiros, surgiu após a constatação do erro do não planejamento do historico Salão para este ano. “Pretendemos resgatar a importância do salão, além de mostrar que o evento revelou artistas e foi um constituidor de acervo para o estado”, justifica a curadora, professora e crítica de arte Maria José Justino.

Serviço
 

 

Desejo de Salão – Salão Paranaense, uma Retrospectiva. Hoje, às 18h30 (para convidados), abertura ao público na quarta-feira (21), às 10h. 3ª a dom., das 10h às 18h. R$ 4 e R$ 2.

Abertura da Livraria do MON. Hoje, às 18h30. Funcionamento até às 21h e, a partir do dia 21, no mesmo horário do museu.

Luz, Arte e Solidariedade – Auto de Natal. Hoje, às 20h30, no vão livre do MON. Entrada franca.

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